Presidente da construtora WTorre critica o poder público da capital paulista e diz que problema está na burocracia, que retarda o prazo de aprovação de grandes projeto Brasil Econômico - Pedro Venceslau
O engenheiro civil Walter Torre Junior, 57 anos, começou no mundo dos negócios em 1973, antes de entrar na faculdade, com uma empresa de transporte. Sete anos depois, no início nos anos 1980, criou a Walter Torre Construtora com foco na locação de galpões industriais. Ela daria origem ao Grupo WTORRE, uma dos maiores do Brasil, que hoje é formado pelas empresas WTEC, Real Properties, WTORRE Desenvolvimento Imobiliário, WTORRE Participações, WTGoodman e Vértico. À frente de algumas das maiores obras privadas do Brasil na atualidade, Torre Junior reclama nesta entrevista exclusiva ao Brasil Econômico das dificuldades de construir em São Paulo. E afirma que seu novo foco é o Rio de Janeiro.
Como está o projeto de construir um porto em Santos?
Walter Torre Junior – Estamos vencendo todas as barreiras. O projeto está em aprovação ainda. A ideia é fazer um porto que coloque o Brasil no padrão que o mundo está. Ainda não temos portos com a eficiência dos outros países.
Será maior que o Porto de Santos?
A ideia é fazer um porto desburocratizado, sem taxas pré-determinadas e com eficiência na entrada e na saída. No mundo inteiro a movimentação de um contêiner custa US$ 100 e no Brasil custa US$ 400. Isso não pode acontecer. O demurrage (custo do navio no dia em que fica esperando) no Porto de Santos foi acima de R$ 1 bilhão esse ano. A população brasileira pagou isso. Cada brasileiro pagou US$ 1,5. Outra falha grave é que ele não para de crescer. Estão fazendo muitos outros berços. Já tem 23 quilômetros de comprimento. Mas é monofluxo. Não passam mais que 28 navios por dia. Nosso porto será maior em movimentação.
Qual será o investimento? Quando ficará pronto?
Será de R$ 4,3 bilhões. Estará pronto dois anos e meio depois de aprovado. Hoje, o Brasil tem classificações complexas de meio ambiente. Os funcionários públicos respondem na pessoa física pelas aprovações de meio ambiente. Então não são motivados. Não querem correr risco na pessoa física. Isso deixa tudo muito lerdo.
Haverá algum investimento público?
Infelizmente não. Eu gostaria de ter.
O porto receberá navios de turismo?
Não. Será um porto de infraestrutura voltado para grãos, líquidos e minérios.
O que o senhor acha da MP dos Portos apresentada pela Dilma?
A liberalização vai democratizar o acesso aos portos. Não podemos permitir a atuação de cartéis no setor.
No auge do seu atrito com a prefeitura de São Paulo por causa dos entraves na construção do complexo JK, o senhor chegou a dizer que nunca mais investiria na cidade. Mantém essa decisão?
Fiquei muito chateado mesmo. Diminuímos muito nosso investimento. Não estamos começando outras coisas.
Que avaliação o senhor faz hoje dos problemas com a prefeitura que atrasaram a obra do JK?
Foi uma inovação que São Paulo lançou: fazer com que os empreendimentos imobiliários sejam corresponsáveis pelo trânsito. Este ponto de vista está errado. Quem é corresponsável pelo trânsito é a indústria automobilística. Ninguém fala nisso. Mas a gente clama mesmo é pela isonomia. Fomos obrigados a fazer R$138 milhões de contrapartida entre marginal, ponte, pista, alargamento de rua e farol. Se esse é o preço, tudo bem – apesar de já termos comprado da prefeitura o direito de construir. Ela vende o CEPAC (Certificado de Potencial de Adicional de Construção) justamente para construir infraestrutura no local. Então pagamos duas vezes. Só fomos saber disso no fim da obra. Mas se esse for o preço, paciência. O que nos deixou irritados é que só nós pagamos esse valor. Todos os concorrentes pagam menos de dez vezes o nosso [ valor ]. Por que eu tenho de pagar dez vezes mais caro que meu vizinho? Não consigo entender isso. Aqui do lado mesmo (do JK) tem um prédio que está ficando pronto agora. Têm 40 mil metros – que é um sexto da gente. Sabe quanto ele pagou? R$ 600 mil.
Como é a sua relação com o novo prefeito, Fernando Haddad?
Muito boa, mas era boa também com o [ Gilberto ] Kassab. O problema é a burocracia da cidade, o prazo de aprovação de grandes projetos. Há seis anos era de cinco ou seis meses. Hoje demora cerca de um ano e meio. A verdade é que um grande empreendimento custa 2% ao mês. Isso é o custo financeiro e o custo dele não produzir.
Isso só acontece em São Paulo?
São Paulo é o grande vilão na área de aprovação. Cresceu a demanda e a infraestrutura da coitada da prefeitura não é capaz de solucionar. Não tem quem faça. Entraram muitos projetos e eles não têm técnicos para analisar. Além disso, não há uma legislação clara.
Qual é a diferença em relação ao Rio de Janeiro?
O Rio tem uma proatividade muito maior. A cidade está vivendo um momento de querer fazer. Em São Paulo, o empresário é visto como inimigo. No Rio as coisas são permissíveis. Aqui não há essa liberdade. Há um código rígido e complexo que ninguém entende. Isso faz mal para a cidade. Um novo custo entrou no jogo em São Paulo. Antigamente você tinha o custo do terreno, do material e da comercialização. Hoje existe um novo player que aumentou o custo em 40%. A prefeitura passou a ser sócia de todos os imóveis.
Esse processo vem de quando?
De uns dez anos para cá.
Então a “culpa” deve ser compartilhada entre Marta Suplicy, José Serra, Kassab e Haddad...
Isso vem aumentando. É um tiro no pé na cidade. Para ganhar uma vez, deixa de ganhar pelos próximos 30 anos. O dinheiro investido na construção civil se incorpora à cidade. A prefeitura começou a sobretaxar o início. Ela ganha de imediato, mas perde no longo prazo.
Quais são os maiores investimentos da WTorre em São Paulo?
Estamos fazendo o maior prédio de São Paulo, que é só um pouco menor que o da Petrobras no Rio. O WTorre Morumbi será um prédio icônico em frente à Marginal [ do Rio Pinheiros ] que vai brincar com a cidade. Fica exatamente na perpendicular da Marginal [ do Rio ] Pinheiros. É um projeto gigantesco. E temos outro que irá suplantar esse e será o maior prédio comercial da América da Latina. A cobertura será um hotel e no meio terá um museu. Tudo será em cima de um grande shopping center. É uma empresa nossa e do BTG. Chama BW.
Quando vai custar?
R$ 1 bilhão. Se tudo der certo, começamos [ a obra ] em dois meses.
Qual será a bandeira do hotel na cobertura?
Estamos negociando. O hotel será boutique seis estrelas de uma grande marca nacional. Apareceram vários interessados. Todas as grandes bandeiras querem ter um hotel em São Paulo. Temos também uma empresa de hotéis com preços de três estrelas e conforto de quatro. Vamos estar em 21 lugares. O primeiro será em Paraupebas (PA). Teremos um também no Rio nessa zona dos prédios. Os outros serão nas entradas das grandes cidades onde existe demanda ou nos nossos shoppings.
Conte um pouco mais sobre esse projeto de construir uma “Wall Street” carioca.
Estamos construindo um conjunto de prédios muito grandes perto da Petrobras. Há dois meses entregamos o maior prédio do país locado para eles, na Lapa Velha, que é como se fosse a nossa “Cracolândia” [ no centro de São Paulo ]. Fomos comprando vários terrenos e fazendo associações na região. Vamos construir muitos prédios ali. A ideia é ter uma quantidade de prédios novos e eficientes voltados de um lado para a área de petróleo e de outro para a financeira. Aprovamos no conselho, temos os terrenos e vamos fazer, mas ainda é prematuro conversar mais sobre isso.
Em um encontro do Lide (Grupo de Líderes Empresariais) o senhor chegou a dizer que iria ultrapassar o Eike Batista no Rio de Janeiro...
Houve uma confusão. Quando acabei a palestra, o (empresário) André Martins (presidente do Lide Jovem) contou que a primeira palestra deles tinha sido com o Eike e que ele achava que ela nunca seria superada. Aí alguém comentou, em tom de brincadeira, que o Eike investe no Rio para deixar São Paulo com inveja. E perguntou o que poderia ser feito em São Paulo para deixar o Rio com inveja. Do jeito que saiu [ na coluna Mosaico do "Brasil Econômico" ] ficou uma coisa chata. Ele está em um momento de baixa. Não quero competir com o Eike. Jamais tive a pretensão de ter o tamanho dele. Nosso negócio é mais pé no chão.
Por que o senhor não faz obra pública?
O tipo de toque de obra é diferente. Minhas obras precisam ser eficientes e rápidas. Precisam de mais liberdade de execução. Com obra pública acontece o contrário. Se encontra um problema, é preciso parar e discutir reajustes. Uma obra nossa que demora um mês com eles demora quatro. Nosso engenheiro ganha diferente, por eficiência. Isso é não é bem visto em órgão público.
A Arena Palmeiras, que está sendo construída pela WTorre, não terá o nome Palestra. Como palmeirense, não acha que isso fere a tradição do time?
A palavra Palestra faz parte da história do Palmeiras e jamais será esquecida. Com certeza a principal área do clube terá esse nome: o museu, espaço de entretenimento ou o mini-teatro com 14 mil lugares. Mas temos um dever com nosso patrocinador. Temos de colocar um nome que ele seja sempre lembrado junto. Se você coloca um sobrenome, a torcida ia chamar só de Palestra. Por isso será Alliance Center. Precisa de um nome forte que justifique o investimento. Outro dado importante. Vamos mudar o padrão e o tamanho do Palmeiras. Não podemos rotular como um time de colônia (italiana). Faremos um time internacional. Teremos outra dimensão. Nossa marca tem de ser global: center, park ou um número, o 360°, é sempre global.
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