As despesas foram pagas com dinheiro público, pela Câmara. Mas um dos assuntos tratados dizia respeito a uma entidade privada, o Corinthians. Foi o que aconteceu em viagem feita em abril pelo deputado Vicente Cândido (PT-SP) para a Bolívia.
Ele acompanhou um grupo de deputados federais em missão oficial para conversar com autoridades bolivianas sobre os 12 corintianos presos sob a acusação de envolvimento na morte de um torcedor do San Jose.
Só que em determinado momento, Cândido, que é vice da FPF se separou dos colegas para falar com a família da vítima, Kevin Douglas Beltrán Espada, se apresentando como pessoa autorizada por Andrés Sanchez a falar pelo Corinthians sobre uma possível indenização pela morte.
Apesar de tratar de um assunto de interesse do clube do qual é conselheiro, Cândido recebeu da Câmara R$ 1.618,74 equivalentes a duas diárias de US$ 391 cada para viajar entre os dias 3 e 5 de abril. O valor foi confirmado ao blog pela a assessoria de imprensa da Câmara e é igual ao pago aos outros membros da comissão enviada a Bolívia. O transporte até lá foi pago pela FAB (Força Aérea Brasileira), como mostra a página de transparência da Câmara na Internet.
Por sua vez, o Corinthians nega que tenha autorizado o deputado a falar em seu nome. Assim, não teria motivo para pagar pela viagem. Andrés não atende ao blog.
Veja abaixo entrevista, por e-mail, via assessoria de imprensa, com Vicente Cândido.
O senhor ainda atua no caso dos corintianos presos na Bolívia? Quais as últimas gestões que fez?
Ainda estamos atuando. Há um diálogo constante com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, Itamaraty, com o consulado e embaixada da Bolívia para que possamos achar um caminho mais rápido para a liberação e resolução do caso. Estamos, em parceria com integrantes das torcidas do Corinthians, tentando arrecadar recursos para ajuda financeira às famílias dos brasileiros presos. Inclusive está sendo realizado em São Paulo, no dia 1/6, um evento chamado “Show pela Liberdade” que vai arrecadar fundos para a ajuda financeira aos familiares dos brasileiros.
Quando viajou para a Bolívia, no início de abril, o senhor disse que se reuniu com a família de Kevin Douglas Beltrán Espada e falou em nome do Corinthians ao oferecer uma indenização. À Folha de S. Paulo, o senhor afirmou ter dito que estava trabalhando em conjunto com o clube na questão da indenização. Sendo conselheiro do Corinthians e atuando numa questão de interesse de seu clube, porque as despesas de sua viagem foram pagas pela Câmara? Não deveriam ter sido pagas pelo clube?
Uma comitiva de parlamentares, em missão oficial, esteve entre os dias 3 e 4/4/2013 na capital da Bolívia, La Paz, com o objetivo de obter mais detalhes sobre a situação dos 12 brasileiros. Durante a visita, a comitiva brasileira se reuniu com parlamentares do país vizinho que integram as comissões de relações internacionais da Câmara e do Senado boliviano. O ex-presidente do Corinthians, Andrés Sanches, iria se encontrar com os parlamentares no país vizinho. Por problemas de saúde da mãe, não pode estar presente e pediu que eu fosse o interlocutor, por ser conselheiro do clube. Como eu integrava a comitiva brasileira de parlamentares, atendi a solicitação.
Na sua opinião, quais os interesses do país nessa questão que justificariam os gastos por parte da Câmara?
O interesse é de libertar 12 brasileiros que estão presos arbitrariamente no país vizinho. Inclusive, a Câmara dos Deputados criou, no dia 18/4, um Grupo de Trabalho composto por parlamentares e representantes do Itamaraty, ministério da Justiça, OAB e CNJ para acompanhar este caso e todos os outros em que se tenham brasileiros detidos.
Os outros deputados que viajaram estavam com o senhor na reunião com a família de Kevin?
Não. Estiveram presentes junto aos familiares, somente eu e o embaixador brasileiro em exercício na Bolívia, Edurardo Sabóia.
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