A falta de respeito que começa na sala de espera dos consultórios médicos é assustadora. Você telefona, marca hora, sai de casa com antecedência e acredita que será atendido no horário combinado. Chegando lá, logo vem a surpresa: aquela tal hora não existe. Aliás, existe somente na agenda da atendente e como mera formalidade. Na sua frente, umas quatro ou cinco pessoas.
A recepcionista avisa, com a maior naturalidade do mundo, que o médico está “um pouco atrasado”. Nesse momento, constrói-se nova modalidade do que chamamos de atraso. Normalmente, entende-se como atraso algo em torno de 15 minutos. Mas nessas salas de espera, há um novo conceito: de uma hora e meia a duas.
Questionada sobre por que não informou por telefone a mudança de horário, a atendente, com desdém, diz que não recebeu ordens do médico para tal. “Médico é assim mesmo!”, diz ela. Então, penso eu, nasce um conceito mais elaborado: o de que médicos são profissionais atrasados que não respeitam nosso sofrimento e que têm o direito de dispor de nossos horários como bem entendem, deixando a nossa saúde em segundo plano.
O pior, sua vida está nas mãos deles e delas, as secretárias. Geralmente são mulheres. Ainda não vi um homem na função. É atividade essencialmente feminina? Tudo indica que sim. Que poder têm essas mulheres!
O mais grave é a franca decisão de dispor das nossas vidas como bem entenderem. Sair para uma consulta médica significa não poder ter nenhum outro compromisso marcado duas horas depois da consulta prevista. A tal consulta, por ironia, dura em média apenas 15 minutos. Seu tempo e sua vida ficam à mercê das consequências do fictício horário, também.
Agonizar na sala de espera de um profissional de saúde, contraditoriamente, é a realidade dos nossos dias. Uma cultura construída a partir do poder de quem detém a possibilidade de produzir saúde. Depois de duas horas de espera, com cara de que está tudo bem, e sem a menor culpa, o médico é incapaz de sequer pedir desculpas. Bobagem, não é? Médicos são assim mesmo, sempre demoram, tem que esperar… Tem mesmo? Quem disse?!
Por Fernando Scarpa, Psicanalista
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