“Ó Deus, cadê a chuva que não chega? O gado está morrendo e não temos mais condição de dar ração a todos os animais”. O clamor do criador, Aldeci Alves Vieira, 77 anos, da localidade de Riacho Vermelho, na zona rural deste município, na região Centro-Sul, é um lamento diário de milhares de produtores rurais, ante o temor de um segundo ano de estiagem no sertão do Ceará. Nas áreas de criação e nas margens das rodovias, as carcaças de bovinos mortos denunciam a gravidade da seca que atinge o Estado desde o ano passado.
O desespero toma conta dos criadores, tanto da agricultura familiar, quanto os pequenos, médios e grandes produtores. Os estoques de ração estão se acabando. O milho vendido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é insuficiente para atender sequer 30% da demanda. As reservas de água também estão se esgotando.
De um total de cem bovinos, o criador Aldeci Vieira já perdeu 26 animais, vacas e bois, em sua propriedade. “Os mais fracos estão morrendo de fome”, disse. “A gente vai dividindo a ração, dando a uns e outros não, mas agora acabou o estoque, e não tenho mais condição de comprar, e o pior é ver os bichos morrerem”.
“Os animais estão morrendo, não temos mais o que fazer, sem condição de comprar ração e a situação está piorando a cada dia”, disse o pequeno criador, José Vicente Lima. Para o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Ceará (FAEC), Flávio Sabóia, a realidade é de desespero e tende a se agravar, caso ocorra uma nova seca. “Os clamores vindos do Interior chegam a nós todos os dias”, disse. “Estamos vivendo um momento de expectativa”.
“De agora pra frente, a situação vai piorar porque os criadores não têm mais como alimentar os bovinos”, disse o secretário de Políticas Agrícolas da Federação dos Trabalhadores Rurais (Fetraece), Luís Carlos de Lima. “A situação é grave”. Lima observou que as ações do governo para enfrentamento do quadro de estiagem são importantes, mas considerou insuficientes para atender os produtores rurais.
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