segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Morte em Oruro pode ficar impune dentro e fora de campo


Menor se apresenta nesta segunda-feira para assumir a culpa, livrando outros envolvidos. Após pressão nos bastidores, Corinthians busca reverter punição

O torcedor de 17 anos que diz ter disparado o sinalizador que matou Kevin Espada fala ao 'Fantástico', da TV Globo
O torcedor de 17 anos que diz ter disparado o sinalizador que matou Kevin Espada fala ao 'Fantástico', da TV Globo - Reprodução de TV
Confiante na possibilidade de convencer a Conmebol a recuar, o Corinthians chegou até a ensaiar uma chantagem de bastidores. Ao vazar à imprensa, no sábado, a informação de que pretendia abandonar a competição caso a punição fosse mantida, o clube deixou a entidade em situação complicada
Quando a morte do garoto Kevin Espada, de 14 anos, completar exatamente sete dias, na noite de quarta-feira, é possível que a série de equívocos e omissões que provocou a tragédia em Oruro já esteja impune, tanto dentro como fora de campo. Na tarde desta segunda, o menor de 17 anos que confessou ter disparado o sinalizador que acertou Kevin no olho, provocando sua morte imediata, deverá se apresentar à Vara da Infância e da Juventude de Guarulhos, na Grande São Paulo, para assumir a culpa pela tragédia. Como ele ainda não atingiu a maioridade e dirá à Justiça que foi o único responsável pelo ocorrido, é muito provável que o rapaz exima todos os outros envolvidos, de forma direta ou indireta - incluindo os doze que estão detidos na Bolívia - de qualquer pena. Na esfera esportiva, a dura punição imposta ao Corinthians na semana passada também pode ser revertida. Depois de exercer forte pressão nos bastidores, o Corinthians espera a vitória de seu recurso contra a decisão da Conmebol já nesta segunda-feira. Na partida de quarta, portanto, o Pacaembu estaria cheio, com a presença de milhares de integrantes da facção responsável pela tragédia, a Gaviões da Fiel, em festa pela atuação de seu time pela Libertadores - como se nada tivesse acontecido, e como se ninguém tivesse de responder pela morte brutal de Kevin Espada.
Com a apresentação do menor que confessou ter disparado o sinalizador - de forma acidental, garante ele -, é provável que o jovem integrante da Gaviões da Fiel seja submetido a uma medida de correção socioeducativa, além de permanecer sob a guarda da mãe. Ele não está livre de uma possível pena de detenção, mas o advogado da torcida organizada, Ricardo Cabral, não acredita nessa possibilidade. Seja como for, o menor permanecerá no Brasil. Com sua confissão, a acusação contra os doze suspeitos de envolvimento no caso ainda detidos na Bolívia deve perder força. A torcida espera que eles sejam liberados nos próximos dias. O menor garante que não está assumindo a culpa para acobertar os verdadeiros responsáveis ou para livrar os doze detidos em Oruro. "Não protegi ninguém. Só quero assumir meu erro", disse ele em entrevista à TV Globo. "Se estivesse no lugar dos torcedores presos na Bolívia, não ia querer ficar detido injustamente." O advogado da torcida organizada sabe que a confissão do menor não garante a soltura dos presos na Bolívia - dois deles tinham sinalizadores iguais aos que mataram Kevin. Ele cobrou o governo brasileiro sobre o caso: "A partir dessa divulgação, cabe também à nossa diplomacia fazer a parte dela", disse. O Itamaraty já tinha cogitado alugar uma casa na Bolívia para dar uma residência fixa aos suspeitos e, assim, permitir que eles tentassem esperar a conclusão do processo em liberdade. 
Vazamento - Na entrevista à Globo, o menor revelou que ficou sabendo da morte do garoto boliviano só na viagem de volta, num ônibus cheio de torcedores da Gaviões. "Para mim, o garoto não tinha morrido e os caras seriam soltos no fim do jogo. Quando soube do que aconteceu, perguntei para algumas pessoas o que fazer, mas me recomendaram ficar quieto porque ainda estávamos na Bolívia”, afirmou. É improvável que qualquer outra pessoa que tenha contribuído para permitir que o menor saísse de São Paulo, onde comprou sinalizador, entrasse no estádio, onde a revista policial negligente não confiscou o objeto, e retornasse ao Brasil, onde permaneceu em silêncio até o fim de semana, seja responsabilizada. Enquanto isso, o Corinthians avisa aos torcedores que nem sequer tentem pedir a devolução do dinheiro dos ingressos vendidos para o jogo de quarta, mesmo com a decisão da Conmebol de fechar os portões das próximas partidas do clube na Libertadores. Confiante na possibilidade de convencer a Conmebol a recuar, o Corinthians chegou até a ensaiar uma chantagem de bastidores. Ao vazar à imprensa, no sábado, a informação de que pretendia abandonar a competição caso a punição fosse mantida, o clube deixou a entidade em situação complicada - patrocinadores, detentores dos direitos de TV e os outros clubes poderiam perder muito dinheiro com a ausência do atual campeão do torneio.

No domingo, o clube sinalizou que essa medida radical não será adotada. Ainda assim, os dirigentes que vão analisar o recurso corintiano ficaram sob forte pressão, pois sabem que um dos maiores contingentes de torcedores do continente estão à espera de uma liberação para seguir o time de perto no estádio. Responsabilizar um clube pelos atos de seus torcedores - sejam eles acidentais ou não - em tragédias como a da semana passada é um princípio amplamente aceito no direito desportivo em todo o mundo. Esse tipo de punição passou a ser vista como a melhor maneira de conter a violência nas arquibancadas. Ainda assim, a diretoria corintiana segue insistindo no argumento de que não tem qualquer culpa pelo episódio e que, portanto, não deve haver qualquer sanção ao clube. A justificativa é frágil diante do fato de que o regulamento deixa claro que as agremiações responderão pelos atos de seus simpatizantes - e mais ainda diante da ligação dos cartolas com os torcedores organizados, principalmente da Gaviões da Fiel, que recebe apoio financeiro e logístico da instituição desde a administração do ex-presidente Andrés Sanchez. No domingo, ao ser informado de que o menor confessaria sua culpa, um dos advogados do clube, Felipe Santoro, avaliou que a notícia "não ajuda nem atrapalha" sua defesa na Conmebol. "O que queremos é a anulação da liminar porque o clube não pode ser punido antes de ser julgado. O Corinthians corre risco de ficar sem público e, depois, ficar provado que é inocente", disse ele.

Um comentário:

  1. Uma vergonha,isso só demonstra o Brasil lixo em que vivemos,um nojo, um esgoto, aonde ser limpo ta virando sinonimo de vergonha e marginal de aclamação, mais uma vez a midia corrupta limpa o lado deles.

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