Era uma vez um reino governado por um monarca autoritário. Oprimia e mandava prender, torturar e matar quem lhe fizesse oposição. O reinado de terror prolongou-se por 21 anos. O povo reagiu, denunciou as atrocidades, e o tirano teve que abdicar da coroa. Vários de seus ministros ocuparam o trono, mas as condições econômicas da população não melhoraram nem quando foi criada a nova moeda, o real.
Insatisfeita, a população conduziu ao poder um dos seus. O novo rei combateu a fome, porém favoreceu também os negócios dos nobres e deixou de dar ouvido ao povo, que se locomovia em carroças apertadas e pagava caro pelo transporte precário. As escolas pouco ensinavam, e os cuidados com a saúde eram inacessíveis.
O castelo isolou-se do clamor das ruas, sobretudo depois que o rei abdicou em favor da rainha. Foi então que a Corte promoveu os Jogos Reais. Arenas magníficas foram construídas, e o tesouro real fez a alegria e a fortuna de muitos súditos fiéis.
A população, inconformada com o alto preço dos ingressos e dos bilhetes de transporte em carroças, ocupou caminhos e praças. Pesou ainda a indignação frente à corrupção. O povo queria mais: educação de qualidade; saúde assegurada a todos; controle da inflação.
A rainha, assustada, buscou conselhos junto ao rei que abdicara. Os preços dos bilhetes de carroças foram reduzidos. O reino, em meio à turbulência, lembrou que o povo existe e prometeu dialogar com representantes da população. Nobres de oposição ameaçam tomar-lhe o trono.
A esperança é que o clamor popular encontre ouvidos no castelo, e as demandas sejam atendidas. Sobretudo, que se ouça a voz dos jovens que ainda não sabem como transformar sua indignação e revolta em propostas e projetos de uma verdadeira democracia.
Por Frei Betto, escritor.
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