terça-feira, 30 de julho de 2013

É chegada a hora de os responsáveis pela administração pública retirarem suas máscaras de hipocrisia

Diante do cinismo do poder político, que não se deu conta de seu papel de representação da vontade popular — após anos de uma assistência passiva ao que fazem políticos e administradores com a coisa pública sem qualquer respeito às suas finalidades republicanas —, o poder social se manifestou nas ruas como um gigante que acorda de longo período de sono.
Após os anos de chumbo, o povo aguardou ansioso que os homens que haviam sido alijados da vida pública por um regime de exceção tivessem voltado ao poder não apenas para restabelecer a democracia, mas para resgatar a confiança popular. Contudo, ainda não apareceu a liderança capaz de seduzir, unir e levar o Brasil ao lugar que o povo e sua privilegiada natureza desejam.
O mundo globalizado em que se vive está em movimento e em constante mútua influência. Após a queda do Muro de Berlim, muitas primaveras se multiplicaram para combater as desigualdades sociais herdadas das gerações excludentes dos regimes de exceção. A marginalidade e a exclusão social coexistem com o esplendor explosivo das redes sociais, gerando na classe média emergente consenso negativo em razão das privações, violências e atos de corrupção que agravam a cada dia a miséria do povo trabalhador.
Frente, portanto, às carências nos setores essenciais de saúde, educação, transporte, e, sobretudo, de confiança no setor político, o povo reage ocupando as ruas clamando por mudanças. A mentira e a falta de coragem com que os dirigentes políticos têm tratado os temas agendados podem servir para agravar a descrença popular e aumentar o tom dos protestos.
É chegada a hora de os responsáveis pela administração pública e representação popular retirarem suas máscaras de hipocrisia, fazer uma confissão, como sugeriu — mas não fez — o prefeito do Rio, e como penitência dar início a uma profunda mudança na relação com a coisa pública e com a sociedade, investindo na honestidade na execução do orçamento, priorizando a pauta exigida pela população nas ruas.
Por Siro Darlan, Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a Democracia

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