Evidência da confusão e do desencontro em que se encontram as bases parlamentares do governo foi constatada na última sessão do Senado antes do recesso, quarta-feira. Porque discursaram dois companheiros de reconhecida presença e influência no PT, fazendo severas críticas à qualidade de vida no país. Só não lembraram de que se a situação anda bicuda, será por conta da inação do governo. Walter Pinheiro, da Bahia, e Humberto Costa, de Pernambuco, pareciam tucanos exaltados.
O baiano começou pelos transportes públicos. Disse nada adiantar comprar ônibus novos, até luxuosos, se há superlotação e se os veículos não andam por conta do tráfego congestionado e dos buracos nas ruas. São ônibus “bonitinhos mas ordinários”.
Walter Pinheiro afirmou, também, que se a vida do brasileiro melhorou dentro de casa, pela aquisição de bens de consumo, da porta pára fora só piorou. Os hospitais continuam sem médicos, as escolas, sem professores. Assaltos, seqüestros, tráfico de drogas só aumentaram.
O senador atribui essa situação caótica à penúria dos municípios, que perdem arrecadação por conta de bondades fiscais do governo federal, como as isenções do IPI e deixam de ter compensações. Para ele, a lei de responsabilidade fiscal deveria ser flexibilizada, caso contrário os prefeitos fecham as prefeituras ou vão parar na cadeia.
Outro tema abordado foi o da aplicação dos royalties do petróleo na educação e na saúde: o pré-sal anda tão salgado, ou seja, tão distante, que parece cada vez mais difícil explorá-lo. Criticou o Congresso e os partidos, inclusive o PT, pelos projetos que aprovam, sempre aumentando despesas e isenções. Terminou lembrando Ulysses Guimarães, para quem o cidadão não mora no país nem no estado, mas no município, onde o dinheiro não chega.
Já Humberto Costa verberou a péssima qualidade dos serviços de saúde, ressaltando a falta de recursos para o funcionamento dos hospitais e postos de saúde. Sem mais dinheiro para o custeio, nada feito, cabendo ao governo federal suprir essas necessidades prementes. Não basta importar médicos do estrangeiro.
Para o senador, ex-ministro da Saúde no governo Lula, falta planejamento no setor de saúde, mas o governo não tem sensibilidade para perceber. Nem se consegue conversar com os governantes. Lembrou que um milhão e meio de assinaturas estão coletadas para emenda popular à Constituição, obrigando a aplicação de 10% da receita federal em saúde, mas até agora a iniciativa não progrediu.
Em suma, dois petistas à procura de um governo que os represente.
Por Carlos Chagas
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