É com angústia que vejo e analiso as declarações de autoridades diplomáticas brasileiras sobre a Aliança do Pacífico. Houve quem afirmasse que ela “não tira o sono do Brasil”. Uma opinião destemida, mas não apropriada quando se trata de um tema vital para os interesses estratégicos do país.
Assim, a criação de um novo bloco de países na América Latina, com suas implicações geopolíticas, comerciais e econômicas é analisada de forma superficial. Não se concebe que esse acontecimento não cause a mais leve apreensão, tanto por parte do governo, quanto pelo Itamaraty.
Ao contrário, o assunto é visto com displicência, um quase desdém, embora a Aliança do Pacífico tenha potencial para causar forte impacto no sonho da integração latino-americana. A começar pela redução do poder de atração representado pelo Mercosul, criado há duas décadas e em permanente instabilidade.
A Aliança representa um forte contraponto à influência política e econômica do Brasil na região. Formada há dois anos por México, Chile, Colômbia e Peru, contabilizou no ano passado US$ 556 bilhões em exportações, contra US$ 335 bilhões registrados no comércio tradicional entre os países que integram o Mercosul.
É compreensível que a Aliança, subestimada no Brasil, seja acompanhada com maior objetividade por outros países. Estados Unidos, Canadá, Panamá e Costa Rica estão mais diretamente interessados. Ao mesmo tempo, França, Japão, Espanha, Portugal, Nova Zelândia e Austrália enviaram observadores à recente reunião de cúpula do grupo.
É quase inacreditável que todo esse barulho em nossa vizinhança, não desperte qualquer curiosidade por aqui. Tanta movimentação política e comercial na nossa retaguarda deveria _ isso sim _ despertar luzes amarelas piscantes no Itamaraty.
Mas, a preferência nesse ambiente é por outras cores. Talvez considere mais atraente o azul da bandeira da combalida União Europeia, com a qual o Mercosul tenta formalizar, há uma década, um acordo comercial capaz de equilibrar interesses da indústria e da agricultura de ambos os lados.
Nesse vácuo de interesse, cabe grande responsabilidade ao Senado e, especialmente, à Comissão de Relações Exteriores e Defesa. Daí, nossa sugestão de realização de uma audiência pública com autoridades e a quem mais interessar, para que possamos debater com profundidade a Aliança do Pacífico e suas implicações geoestratégicas, políticas e comerciais no continente, levando em conta, principalmente, o Brasil e o Mercosul.
Por Pedro Simon, ex-governador, ex-ministro e atual Senador (PMDB-RS).
Nenhum comentário:
Postar um comentário