Os conflitos constituem o ser humano e decorrem de tensões contrárias que se chocam. Sejam os conflitos entre a carne e o espírito, os da fantasia e a realidade, bem como os atuais conflitos sociais. Os conflitos psíquicos podem ser: entre um desejo e a defesa, entre desejos e sentimentos opostos. Esses são conflitos inconscientes expressados em sonhos e sintomas. Em boa parte, são decorrentes da ambivalência, pois convivem em cada um de nós tendências opostas como o amor e o ódio. Impossível um amor puro sem hostilidades. Ninguém, felizmente, é um anjo, ao contrário, somos imperfeitos e ambivalentes. As ambivalências são mais intensas nas psicoses, nos ciúmes doentios, entre outros. Um motorista de táxi me contou que teve uma mulher ciumenta. Elogiou-a como amante, mas separou-se um dia porque foi ameaçado com um revólver numa de suas crises.
A mais precoce ligação afetiva de uma criança com seus pais se expressa pelas identificações. Elas constituem a base da personalidade, e a identificação é ambivalente, pois a criança é carinhosa, mas também expressa sua agressividade. Portanto, os sentimentos de ambivalência podem ser observados na infância de todas as pessoas. Pode parecer desconcertante como um ser de tão pouca idade já manifesta tanto ternura quanto hostilidade. As contradições são inerentes à condição humana, ou como disse Heráclito: o conflito é o pai de todas as coisas.
Um dos conflitos essenciais é o conflito edípico decorrente do triângulo que se forma entre a criança e os pais. Por exemplo: um pai chega em casa e vê sua esposa fazendo salada de batatas e junto a ela seu filho. O pai abraça sua mulher e diz de forma provocadora ao menino: “Ela é minha”. O filho então diz: “O.k., então fico com as batatas”. A criança conseguiu, com humor, vencer o jogo que o pai lhe propôs. Aliás, o humor é a expressão mais espirituosa de como se podem enfrentar os conflitos.
Schopenhauer expressou numa metáfora as tensões entre os seres humanos: num gelado dia de inverno, os porcos-espinhos se juntaram para não morrerem de frio. Mas logo sentiram as puas uns dos outros e se distanciaram. Passou um tempo e, quase congelados, voltaram a se unir. Seguiram assim até encontrarem um ponto de equilíbrio, em que nem sentiam tanto frio, nem se feriam muito. São assim as relações humanas, elas oscilam entre as dores e os amores, os tapas e os beijos.
A história, tanto privada quanto pública, se desenvolve através dos conflitos, como os de hoje no país. O Brasil se levanta através dos jovens que participam ativamente na vida política. Se a revolução ideal terminou, a rebeldia está viva felizmente. E a rebeldia é não se adaptar à realidade como ela é. Protestar é uma forma de participação direta na História. O desejo é de uma democracia melhor, com mudanças, as lutas são por mais direitos ou como dizia uma faixa no Rio de Janeiro: “Não é por centavos; é por direitos”.
Por Abrão Slavutzky, psicanalista http://www.franciscocastro.com.br/blog/
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