A boate Kiss, cenário de uma das maiores tragédias ocorridas no mundo, foi inaugurada em julho de 2009. Dois anos depois se tornou um sucesso entre os jovens da cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul. A procura pelas festas na boate era tão grande que os clientes começaram a reclamar das filas que se formavam na frente. Nessa época, o empresário Elissandro Callegaro Spohr, conhecido pelo apelido de Kiko, dizia que a boate poderia receber até 1.400 pagantes. De acordo com a polícia, haveria de que entre 1.000 e 1.500 jovens na boate na noite da tragédia. No entanto, o local poderia abrigar no máximo 691 pessoas, segundo diz o Corpo de Bombeiros.
A seguir, apresento vários trechos de reportagem da revista Época na qual traça um perfil dos donos dessa casa de shows que ceifou as vidas de quais duas centenas e meia de pessoas. Para ler a reportagem completa com muito mais informações, acesse o link na revista.
Oficialmente, Kiko é proprietário não da boate, mas de um negócio com muito menos glamour. Ele tem uma revendedora de pneus, localizada nas cercanias de Santa Maria, a Vales Verdes. Atualmente, essa revendedora deve em impostos cerca de R$ 3 milhões ao governo federal e seus bens foram penhorados.
A Kiss, cuja razão social é Santo Entretenimentos, está em nome de uma irmã de Kiko, Ângela Aurélia, e da mãe dele, Marlene Terezinha. O sócio real do empreendimento é um tarimbado empresário da noite de Santa Maria. Mauro Londero Hoffmann, de 47 anos, conhecido como Maurinho, é dono de bares, restaurantes e casas de shows. A principal delas, a luxuosa boate Absinto Hall, reúne num espaço de 800 metros quadrados, bem maior que a Kiss, cerca de 200 mil pessoas a cada ano, segundo informa o site da empresa na internet.
Maurinho parece ter se associado a Kiko, comprando 50% das cotas da Kiss no meio do ano passado, para salvar o empreendimento da falência. A boate se tornou uma das três principais casas noturnas da cidade, embora seus resultados financeiros não fossem bons. O grande número de adolescentes sempre presentes na casa chegou a dar ao recinto o apelido de Kids. Essa reputação afastava o público mais velho e endinheirado.
Nascido e criado em Santa Rosa, cidade a 270 quilômetros de Santa Maria, Kiko pertence a uma família com boas condições financeiras, que administra a GP Pneus, empresa com filiais em outras regiões do país. Conhecidos diziam que ele abriu a boate motivado por uma veleidade artística – queria investir em seu lado cantor e enxergou na Kiss uma possível alavanca para o estrelato. Por isso, se interessava em atrair para a boate os jovens estudantes, a maioria das vítimas do incêndio. Divulgava cartazes estimulando turmas de universitários a organizar festas no local. A boate contratava a banda de música, imprimia o ingresso e divulgava o evento. O lucro vinha da venda de ingressos. Os estudantes organizadores ainda ganhavam uma comissão em dinheiro, fazendo caixa para a formatura, se vendessem com antecedência um grande número de bilhetes de entrada. O preço costumava ficar entre R$ 15 e R$ 25. A casa promovia entre três e quatro festas por semana.
No fim da tarde de segunda-feira (28), Kiko assistia ao noticiário na Globo News na TV do quarto 301 do Hospital Santa Lúcia, em Cruz Alta, a 130 quilômetros de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Chorando muito, ele dizia: “Como é que eu vou carregar isso? Como? Não sei o que vou fazer da vida”. Quem narra a cena é a inspetora da Polícia Civil da cidade, Maristela Gomes Figueiredo. Ela foi a primeira policial designada a observar Kiko depois de decretada sua prisão. Kiko estava muito abatido, mas sem ferimentos aparentes. Vestia uma bermuda e uma camiseta. Mal conversava com a mulher, Nathália, grávida de 18 semanas, internada no mesmo quarto que ele. Sob o efeito de sedativos, dormia e acordava sucessivamente.
Garantir o ressarcimento não será uma tarefa fácil. A distribuidora de pneus da qual Kiko aparece como dono foi incluída no cadastro dos contribuintes que devem ao governo federal. Para garantia de pagamento da dívida de quase R$ 3 milhões, a Justiça penhorou os bens da empresa, que somaram R$ 1,1 milhão, valor insuficiente para cobrir o rombo. No dia 19 de dezembro passado, o Tribunal Regional Federal manteve a Verdes Vales na lista suja dos devedores.
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