quarta-feira, 6 de março de 2013

As periferias das cidades e a juventude brasileira


Por Adalberto de Salles Lima 
Na conjuntura atual, a discussão sobre juventude, educação e trabalho tem apontado a necessidade de reflexões acerca das políticas públicas voltadas para inclusão dos jovens e suas condições socioeconômicas. Segundo o último censo do IBGE, em 2010, o número de jovens de 15 a 29 anos chega a 26,91% do total da população.
No contexto da globalização, na qual as disparidades socioeconômicas e a competitividade marcam nossa sociedade, os jovens sentem sérias dificuldades de ingressar no mundo do trabalho. Estas dificuldades estão relacionadas a várias questões, a exemplo da pouca qualificação profissional, discriminação pela etnia, localidade, competitividade do mercado, avanço das tecnologias e a baixa qualidade de ensino nas escolas públicas.
De acordo com alguns autores, a discussão sobre juventude é complexa e plural. Existem várias juventudes e cada uma apresenta uma forma de ver, sentir e conviver no mundo, uma vez que constitui, também, momentos de reflexão, questionamentos e descobertas. Cada jovem representa uma percepção de mundo, nas quais as experiências sociais do grupo que está inserido refletem em contextos e prática sociais que particularizam sua trajetória de vida. A juventude não é um grupo rigidamente definido, perpassa por uma complexidade que vai além de um pensamento simplista, baseada em faixa etária.
A realidade social dos jovens da periferia de Salvador, por exemplo, principalmente os afrodescendentes, expressa os desafios cotidianos na busca de melhores condições de vida. Esses desafios estão relacionados, sobretudo, à inclusão no ensino médio e o ingresso no mundo do trabalho. No Brasil, a discussão sobre juventude, no âmbito do Estado, é recente. Em 2003, foi criada a Secretaria Nacional da Juventude, além de programas de inclusão, como o Primeiro Emprego e o Jovem Aprendiz.
O jovem negro(a) da periferia, ao refletir sobre sua situação social, evidenciada pela pobreza e poucas oportunidades de emprego, transmite o sentimento da baixa autoestima para suas perspectivas profissionais. Isso implica o descrédito de suas potencialidades na ocupação de postos de trabalho que oferecem poucas condições de mobilidade profissional ascendente, muitas vezes sem garantias trabalhistas e com baixa remuneração. O trabalho oferece possibilidades de desenvolvimento das habilidades e do potencial artístico e intelectual a esses jovens.
De acordo com o IBGE, no Nordeste, a quantidade de jovens analfabetos ultrapassa os 500 mil. Em termos relativos, a taxa de analfabetismo na Bahia é a maior entre todos os estados brasileiros, com 16,6% da população que não sabe ler nem escrever. Entre os jovens baianos esse índice chega a 3,7%, equivalente a quase 100 mil pessoas. Para o IBGE, Salvador é a quarta capital brasileira no ranking do analfabetismo, com 84.204 pessoas que não tiveram acesso ou não concluíram à formação básica. Desse total, aproximadamente 5,8 mil jovens afrodescendentes, na faixa etária de 15 a 29 anos, são analfabetos.
Os dados referentes às condições de escolaridade entre os jovens da periferia implicam diretamente as condições de ingresso no mundo de trabalho. Para a juventude oriunda de contextos populares, o trabalho representa o acesso a determinados ambientes, o aumento da autoestima e a garantia dos meios de sobrevivência individual e, muitas vezes, da família. Este constitui uma experiência na vida essencial, ao passo uma vez que o jovem almeja a condição de adulto, pois esta fase da vida está diretamente relacionada a questões como independência financeira, maturidade e liberdade.
Por fim, a discussão sobre juventude, educação e trabalho revela-se extremamente necessária na promoção de políticas sociais de inclusão. O debate acerca dessa temática, além de buscar entender as condições socioeconômicas deste segmento populacional, traz consigo contribuições significativas para o desenvolvimento do país.

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