domingo, 24 de março de 2013

Brasil pode perder parte do território do Acre para a Bolívia


Erosão pode separar bairro na cidade de Brasiléia do território brasileiro.
Alguns moradores já abandonaram suas casas com medo.


Yuri Marcel
Bairro Leonardo Barbosa pode ser separado do Brasil (Foto: Reprodução Prefeitura de Brasiléia)Bairro Leonardo Barbosa pode ser separado do Brasil (Foto: Reprodução Prefeitura de Brasiléia)
O Brasil pode perder uma área de terra equivalente a 66 campos de futebol para a Bolívia. A erosão, provocada pela cheia do Rio Acre, poderá em alguns anos, separar parte do bairro Leonardo Barbosa, localizado no município de Brasiléia (fronteira com a Bolívia), distante 240 quilômetros da capital acreana, do restante do território nacional. De acordo com informações da prefeitura de Brasiléia, atualmente 614 famílias vivem no local.
O geólogo do Instituto de Pesquisa da Amazônia (Ipam), Pavel Jezek, explica que há um risco de o território onde fica o bairro ser separado do restante do munícipio de Brasiléia, caso ocorra uma grande enchente.
Como a fronteira entre Brasil e Bolívia na região é demarcada pelo Rio Acre, os 66,05 hectares que compõem o território do bairro Leonardo Barbosa poderiam ser reclamados pelo governo boliviano.
Jezek diz que a situação já foi informada para a Agência Nacional da Água, para Secretaria Nacional de Recursos Hídricos e também para o Itamaraty, considerando que o Rio Acre é fronteira internacional. Além disso, uma proposta técnica para tentar conter a separação foi apresentada à prefeitura de Brasiléia, mas nenhuma providência foi tomada até o momento. Ele atribui a demora à necessidade de um acordo binacional que ainda não foi realizado.
"A causa do processo de erosão no bairro Leonardo Barbosa é o rio, cuja vazão, quantidade de água por unidade de tempo, varia entre seca e cheia. Em situação de cheia aumenta a velocidade e a intensidade de erosão", explica.
Ele reforça ainda que a ocupação de terrenos nas margens do rio, contribui para diminuir a coesão da superfície do solo.
"Todo mundo sabe que essa é uma área de risco"
Bairro Leonardo Barbosa pode ser separado do Brasil em Brasiléia (Foto: Yuri Marcel / G1)José Soares Lopes vê o rio Acre levar um pouco da 
sua casa a cada ano. (Foto: Yuri Marcel / G1)
A coordenadora pedagógica da Unidade do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) em Brasiléia e moradora do Leonardo Carvalho, Rejane Raolino de Souza, conta que a escola, localizada no bairro, já foi condenada pela Defesa Civil e deverá ser transferida para outro lugar em três meses.
"Todo mundo sabe que essa é uma área de risco que foi condenada pela Defesa Civil, mas no momento a gente não pode fazer nada, porque as crianças não podem ficar sem estudar e a gente não pode ficar sem cumprir com os nossos deveres. Já pensei em sair, mas no momento não é possível", relata.
Outro morador que está preocupado é o comerciante José Soares Lopes (42) que vive há sete anos no bairro. A erosão já alcançou a parte de trás de seu comércio e ele conta que espera uma atitude do poder público.
"A alagação está fazendo com que a terra vá descendo, está derretendo tudo. Aqui era uma área de cinco metros que está acabando. A gente espera uma ação do governo, que eles venham olhar de perto e digam se vão nos tirar ou vamos ter que sair por conta própria", disse.
Segundo o radialista Marcos José Filho (37) a população não sabe como agir. Ele conta que muitos já venderam suas casas e se mudaram com medo, mas que outros por não terem para onde ir, continuam a espera de uma ação do governo.
"Aqui estamos praticamente ilhados correndo o risco de ficar isolados do resto da cidade. Já tivemos uma alagação forte no ano passado e muitos moradores por não terem para onde ir, continuam morando nessa área e o rio continua quebrando o solo. Têm pessoas que não conseguem dormir em paz com medo e muitos moradores já venderam suas casas e saíram daqui por causa disso", conta.

Bairro Leonardo Barbosa pode ser separado do Brasil em Brasiléia (Foto: Yuri Marcel / G1)Moradores deixam casas levadas pelas águas do Rio Acre (Foto: Yuri Marcel / G1)
Prefeitura pretende retirar moradores
De acordo com a secretária de Planejamento de Brasiléia, Gorete Carvalho, a prefeitura vai identificar as pessoas que vivem nessa área de risco e alocá-las em programas de habitação como o Minha Casa Minha Vida. O trabalho, porém, deve levar ainda cerca de um ano para ser concluído.
Sobre a possibilidade de  criar uma contenção para impedir a perda do território, ela diz que a prefeitura precisa de mais estudos para fazer um planejamento sobre o caso.
Enquanto isso, a  população do Leonardo Carvalho continua com medo. "Quando está chovendo a gente dorme à noite se preocupando que o rio encha para não sermos pegos de surpresa", conclui Marcos José Filho.

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