Por Luiz Carlos Barreto, cineasta, produtor cultural e cearense
Os alimentos, as fontes de energia limpa, a água, os conteúdos criativos da informação e lazer e ainda o petróleo se constituirão nas maiores demandas do século 21.
Em matéria de alimento, o Brasil vem se preparando bem, com a adoção de inteligente política de produção. No campo da energia limpa, nossa posição é confortável dado o potencial hidroelétrico, a política atômica para fins pacíficos e as reservas de água potável (16% de toda a reserva mundial). Dispensável falar do que representa o pré-sal.
O preocupante é pensar na nossa condição de produtores de conteúdos culturais com vistas ao abastecimento da extensa e moderna rede de difusão da informação, do lazer e do conhecimento que já está montada no Brasil.
Sabemos que nossa capacidade técnica e artística e o nosso saber fazer não estão ainda respaldados por estruturas empresariais sólidas, capitalizadas e capazes de manter um fluxo de produção contínuo.
O objetivo principal é, portanto, dotar o Brasil de estruturas empresariais privadas e públicas, capazes de atender à grande demanda de conteúdos genuinamente brasileiros, destinados não só a abastecer o mercado interno nacional como também exportar parte dessa produção de conteúdos.
O Brasil consome, só na área do entretenimento, mais de 800 milhões de horas de produtos que preenchem as grades de programação das redes de comunicação de massa hoje instaladas, cobrindo quase 100% do território nacional.
São oito redes de TV operando em escala nacional, mais de 400 programadoras de TV por assinatura, cerca de 30 milhões de antenas parabólicas, quase 220 milhões de telefones celulares e mais de 20 milhões de computadores nas mãos de vorazes navegadores da internet. E ainda vem por aí uma parruda banda larga já instalada em mais de 60% dos municípios brasileiros equipados com fibra ótica.
Em recente relatório divulgado pela conceituada Price Waterhouse, o Brasil e a China são os líderes mundiais do crescimento da indústria do entretenimento, cuja cifra de negócios atingiu US$ 1,7 trilhão entre 2001 e 2010. Dentre todas as atividades econômicas mundiais, foi o setor que mais cresceu, numa média de 8,5% ao ano. No Brasil e na China, o avanço foi de 8,7% e 12% ao ano, respectivamente.
Em outro relatório, prevendo o que acontecerá de 2010 a 2014, a Price Waterhouse afirma que ambos os países continuarão liderando esse crescimento da indústria do entretenimento. Com relação ao Brasil, o relatório revela que a cifra de negócios da indústria do entretenimento atingiu US$ 23 bilhões em 2010 e, até 2014, chegará perto de US$ 60 bilhões anuais.
Estamos vivendo com intensidade o nosso grande momento de país em desenvolvimento e o “boom” da convergência tecnológica e nem sequer produzimos 5% dos conteúdos veiculados nas grades de programação.
Assim como o petróleo tem sido até aqui o combustível gerador da energia do mundo contemporâneo, os conteúdos criativos já são, e cada vez mais serão, a energia, a força mobilizadora do século 21.
O poder e a força de influência dos países no concerto universal das nações serão medidos por sua riqueza cultural e capacidade de produzir e difundir sua criatividade. A cultura, geradora de saber, informação, conhecimento e entretenimento, será o diferencial que os povos poderão apresentar. A almejada sustentabilidade é resultado do processo cultural.
As culturas nacionais são ativos ainda não contabilizados. A riqueza cultural que decorre dos hábitos e costumes de cada povo são reservas naturais como as florestas e precisam ser transformados em bens de consumo. O cinema, a música, a literatura, as artes plásticas etc. são produtos artísticos e devem ser usufruídos democraticamente.
Bens culturais, assim como a água, as fontes de energia limpa e alimentos, são as grandes commodities do século 21. Mas aqui no Brasil a produção cultural ainda é tratada como algo supérfluo, ou, quando muito, um ornamento que ameniza as agruras do cotidiano.
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