sábado, 16 de fevereiro de 2013

Apesar de ser um empresário de muito sucesso, o homem mais rico do Brasil precisa de muito dinheiro do BNDES


Por Fernando Dantas
A oferta de aquisição, junto com Warren Buffett, da multinacional americana de alimentos Heinz (conhecida pela tradicionalíssima marca de ketchup do mesmo nome) pela 3G Capital coloca em destaque os três bilionários brasileiros – Jorge Paulo Lemann, Marcelo Telles e Carlos Sicupira – que podem ser considerados os maiores símbolos nacionais do capitalismo liberal, desimpedido e agressivo. Desde o início da sua carreira, Lemann, ex-campeão de tênis (e também um dos pioneiros do surf no Brasil, detalhe menos conhecido), tornou-se conhecido, e até cultuado, como um visionário empreendedor, que aplica na prática, e com feroz zelo, as leis de mercado pregadas por Adam Smith e que contribuem mais para geração de riqueza para os indivíduos e para as nações do que qualquer outro sistema econômico. 
A história dos bilionários brasileiros da 3G Capital é bem conhecida. Do ultra agressivo e competitivo (inclusive internamente) Banco Garantia, fundado no início da década de 70 e posteriormente vendido ao Credit Suisse, às aquisições espetaculares das Lojas Americanas e da Brahma, à fusão desta com a Antarctica na AmBev, e à posterior formação da Inbev (hoje Anheuser-Busch InBev), maior grupo de bebidas do mundo, com a fusão com a belga Interbrew. 
Nos Estados Unidos, o trio esteve à frente da aquisição da Anheuser-Busch, fabricante da conhecidíssima cerveja Budweiser, pela InBev; da aquisição da empresa ferroviária CSX (a maior do Leste dos Estados Unidos); e, agora, a aquisição conjunta, por US$ 28 bilhões, da Heinz. Essas são, claro, apenas algumas das operações mais conhecidas dos três bilionários. 
Nem é preciso mencionar a honra no altar do capitalismo que representa a participação numa operação como a da Heinz, de igual para igual (e inclusive com a 3G Capital no papel de operadora) com o mítico Warren Buffett, a maior lenda viva do mundo dos investidores. E não seria exagero dizer, como saiu na imprensa internacional, que Lemann (auxiliado por seus dois sócios de toda uma vida de negócios) é uma espécie de Buffett brasileiro, um investidor de fantástica eficiência e sucesso, que o colocam num patamar à parte dos seus pares. Aliás, Eike Batista, com sua fortuna oscilante e montada em negócios muito mais arriscados, já foi ultrapassado por Lemann (que tem US$ 18,8 bilhões, segundo a Bloomberg) no posto de brasileiro mais rico. 
O economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas e política industrial, não mede palavras para descrever a nova operação da 3G Capital. “Eles são impressionantes, fascinantes, e mostram exatamente o que a gente espera de um capitalismo ultracompetitivo”, ele diz. 
Na sua opinião, as operações internacionais, e especialmente nos Estados Unidos, de Lemann, Telles e Sicupira colocam em evidência virtudes que não são nada típicas dos grupos empresariais brasileiros e latino-americanos. O economista nota que os três investidores atuam de uma forma totalmente desvinculada do modelo de empresa familiar tão comum na região. 
“Quando você se associa a um grande investidor lá fora, ele vai querer uma gestão totalmente profissional, formal, certamente não vai querer nada de família envolvido”, comenta Almeida. Ele acha inclusive que este detalhe pode ter ajudado a azedar a relação de Abílio Diniz com o grupo Casino, que comprou o Pão de Açúcar. 
Outra característica da 3G, polêmica junto ao público em geral, mas muito popular em Wall Street, é a forma rápida e impiedosa com que cortam custos das empresas adquiridas. Almeida, que já teve contatos com executivos do grupo, lembra-se de relatos de como eles aplicaram na CSX sistemas desenvolvidos na brasileira ALL (da qual também participam) para reduzir drasticamente o número de controladores das composições. “Eles me disseram na época que a ferrovia era muito mal administrada, e que eles sabiam que poderiam melhorá-la”, recorda-se o economista. 
No caso do Burger King, Almeida lembra uma conversa na qual executivos do grupo revelaram que haviam feito uma avaliação do custo de tomar o controle do McDonald’s, que era fabulosamente alto. Foi dessa forma que a 3G pôde notar o quão barato estava o preço de adquirir o Burger King, US$ 3,3 bilhões. Naturalmente, para depois, com seus métodos agressivos de gestão, reformular a tradicional marca americana e expandi-la no mundo emergente. 
Mas o economista acha irônico que o trio de bilionários brasileiros, que é uma aula viva sobre o funcionamento e as vantagens do capitalismo liberal, aja em solo pátrio exatamente como o grosso dos grandes grupos nacionais, buscando todas as oportunidades de usufruir de financiamentos públicos subsidiados. 
“Apesar de eles não precisarem de governo, como mostra esta operação da Heinz, aqui no Brasil eles têm vários empréstimos com o BNDES”, diz Almeida. Segundo o economista, entre os dez maiores emprestadores do BNDES em 2011, na categoria que inclui indústria e varejo, constam três empresas ligadas ao trio de bilionários: a AmBev, as Lojas Americanas e a B2W, resultado da fusão da Americanas.com com o Submarino. O total de créditos do BNDES às três em 2011, de acordo com Almeida, é de pouco mais de R$ 3 bilhões. 

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