quarta-feira, 10 de abril de 2013

Os indívidúos são senhores de suas carreiras, profissões e atitudes tanto na vida privada quanto nas empresas em que trabalham


Por Renato Bernhoeft
É muito provável que a expressão “profissões portáteis” seja algo desconhecido para a grande maioria dos leitores. Ela se origina nos povos que ao longo da sua história enfrentaram guerras, perseguições e, na sua maioria, tiveram seus territórios invadidos ou ficaram sem uma localização física. Estes episódios tornaram estas populações nômades e, como uma conseqüência positiva, criaram um espírito de unidade nacional que se manifestava de forma independente da existência ou ocupação de uma área territorial.
Para as famílias destas nações um dos grandes desafios que se apresentava era, como desenvolver sistemas de ensino e formação profissional para seus filhos em condições de total instabilidade política, econômica, social e territorial. E, acima de tudo, que pudessem ter aplicabilidade em qualquer situação ou local geográfico.
 É no enfrentamento destas condições adversas que surge como solução a de preparar filhos com “profissões portáteis”. Ou seja, um conjunto de conhecimentos e habilidades que possam ser transferidas juntamente com seu portador. E não dependam de instrumentos, recursos, estruturas ou organizações que podem não existir.
Lembrei-me deste episódio – que infelizmente ainda é muito atual em função dos conflitos e guerras – como uma forma de provocar reflexões sobre os desafios com que se deparam os profissionais que buscam alguma perspectiva de carreira ou re-direcionamento da mesma.
Para muitos ainda existe um desejo – ou auto-engano – do emprego para toda a vida ou da aquisição de um conhecimento duradouro ou permanente. Famílias e Escolas ainda tentam alimentar esta ilusão.
Um artigo recente do “The Economist” tratando da luta de poder que começa a se estabelecer entre profissionais que detém conhecimento e as grandes corporações, procura demonstrar que “as pessoas talentosas estão precisando menos das organizações do que as organizações das pessoas”.
Daniel Pink, um profissional autônomo lançou um livro sob o título “Free Agent Nation: How America’s New Independent Workers are Transforming the Way We Live”, que numa tradução livre é algo como “A nação dos agentes livres: Como os novos trabalhadores Independentes da América estão transformando a maneira como vivemos”.
 Segundo o autor “dos 100 maiores grupos industriais dos Estados Unidos em 1974, metade havia desaparecido em 2.000. Pois os agentes livres podem, na verdade, gozarem de mais segurança que as pessoas com empregos formais: elas diversificam seus riscos, ao invés de depender da sabedoria dos seus chefes”.
Segundo Pink, o resultado de todo este fenômeno é uma queda firme no número de pessoas dispostas a “vestir a camisa da empresa”, pois o número de empresas com um só funcionário está crescendo de 4% a 5% ao ano nos EUA”.
É evidente que as corporações ainda têm alguns instrumentos a seu favor. Principalmente porque muitas pessoas, de fato, ainda apreciam a sensação de pertencer à vida nos escritórios e seus rituais. Bem como muitas das organizações mais avançadas ainda são repositárias de habilidades difíceis de serem copiadas.
Embora o talento possa estar no cérebro das pessoas, ele pode ser alimentado pelos mecanismos e estruturas das corporações.
Também o processo de aprendizagem mudou significativamente nos últimos anos. Segundo uma pesquisa realizada nos EUA pela consultoria Deloitte, “ a maioria dos funcionários valoriza mais o treinamento informal do que o ensino formal. 67% dos participantes disseram que aprendem mais quando estão trabalhando com um colega; 22% afirmou que se sai melhor quando conduz suas próprias pesquisas, e apenas 2% considerou que aprendeu mais dos manuais de orientação”.
E, quem sabe o dado mais relevante é que 94% dos pesquisados declarou que a segurança no emprego não é uma responsabilidade da empresa, mas sim algo que cada um deve assumir como seu desafio.
O que nos parece relevante em tudo isto é que a escolha de uma profissão, encaminhamento de uma carreira corporativa ou até mesmo empreender suas habilidades começam a ser encarados como responsabilidades do indivíduo. Não mais das empresas ou instituições.

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