O estádio do Corinthians, na zona leste de São Paulo, ainda não está pronto, mas sua história renderia um bom documentário sobre o Brasil. Uma peça importante no enredo, da qual todos desconfiavam, foi revelada com todas as letras nesta terça-feira 16 pelo presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil, em entrevista ao Bola da Vez, da ESPN Brasil.
O grande idealizador do estádio do Corinthians é o ex-presidente do clube Andrés Sanchez. Para realizar o sonho da torcida, Sanchez precisava de duas coisas. A primeira delas era dinheiro público barato para erguer o “Itaquerão”. Isso o Corinthians conseguiu, como revelou o próprio Andrés em entrevista à revista Época, com o ex-presidente da República e corintiano Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Disse Sanchez em setembro de 2011: “Quem fez o estádio fui eu e o Lula. (…) [O dia em que essa história vier a público] não vai ficar feio pra ninguém. Vai ficar, talvez, não imoral, mas difícil para o Lula. (…) Porque vão falar: “Pô, como é que uma empreiteira [a Odebrecht] se submete a fazer isso? Por que o presidente pediu?”.
A segunda necessidade de Andrés era uma justificativa para esse dinheiro público ser usado em benefício do Corinthians, e não (em menor quantidade) na reforma do estádio do São Paulo, o Morumbi. O que fez Sanchez para obter isso?
Entrou em acordo com o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Teixeira queria, em 2010, acabar com o C13, a única fonte de incômodo a seu domínio sobre o futebol brasileiro. Para isso, fez o que podia. Diversos clubes se venderam em troca da validação da Taça Brasil e o Robertão como títulos do Campeonato Brasileiro. O Flamengo se vendeu pelo reconhecimento do título brasileiro de 1987. O preço do Corinthians foi o estádio.
Como contou o presidente do Galo, Sanchez vendeu a destruição do Clube dos 13 pelo direito de ficar com a sede paulistana da Copa do Mundo. “Porque o ex-presidente do Corinthians (Andrés Sanchez) desde o início falou que ia sair e detonar (o Clube dos 13). O Andrés Sanchez tinha um estádio prometido para detonar a mesa. Ele ia ganhar um estádio. Estou falando aqui porque ele falou comigo e não pediu segredo. Falei com ele e perguntei: ‘Que sacanagem é essa’. Porque ele é tudo, menos bobo. ‘Kalil, estou ganhando um estádio’. Virei as costas e saí andando.”
Desta forma, Sanchez juntou as duas coisas que precisava. Por meio de Lula, da Odebrecht e do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) veio o dinheiro, quase R$ 1 bilhão. Por meio de Ricardo Teixeira, a justificativa para usá-lo. Há quem veja mérito na atuação de Sanchez. Não é de se surpreender. A história da construção do “Itaquerão” é uma tipicamente brasileira.
Foto: Divulgação / Odebrecht
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