Por José Pastore, professor de relações do trabalho da FEA-USP. www.josepastore.com.br
Nos últimos dez anos, a proporção de mulheres que trabalham fora de casa passou de 35% para 45%. O rendimento do contingente feminino também cresceu, tendo chegado a 14% no período considerado (em termos reais), enquanto o dos homens ficou em apenas 4%. No campo educacional, as mulheres já são mais instruídas do que os homens. Entre as que trabalham, elas têm, em média, 11 anos de estudo, ante 9 anos dos homens. O porcentual das mulheres que têm curso superior é de 19%, enquanto o dos homens é de 11%. Elas já são a maioria nos programas de mestrado e doutorado. Entre 2000 e 2010, as mulheres dobraram sua participação em cargos de chefia, gerencia, diretoria e presidência.
Mas nem tudo são rosas. As mulheres enfrentam dificuldades crescentes. A grande maioria das que trabalham é forçada a combinar os papéis de funcionárias, mães, esposas e donas de casa. Elas gastam no trabalho, em média, 50 horas por semana (contando o tempo de deslocamento) e despendem, em média, 22 horas adicionais nos serviços domésticos, enquanto os homens gastam só 10 horas. Na maioria dos casos, as trabalhadoras se levantam às 5 horas da manhã e dormem à meia-noite. A necessidade de harmonizar as responsabilidades profissionais com as familiares as leva a praticar a “jornada dobrada”. Isso tudo não é novidade. Ocorre, porém, que essa sobrecarga tem se agravado em decorrência da crescente dificuldade para contar com o apoio das empregadas domésticas e do esvaziamento da família extensa, na qual os avós ajudavam a criar os filhos e a administrar a casa.
Sem desmerecer o talento e a criatividade das empreendedoras e executivas que estão no topo da pirâmide profissional, penso que a verdadeira mulher alfa é esta que, além de obstinação, garra e competência, vive um ritmo de trabalho alucinante e que desfruta de baixos salários.
A intensificação do trabalho tem afetado o comportamento das mulheres, a estrutura da família e a própria população. As mulheres de hoje não querem e não podem ter muitos filhos. Em 1990 nasciam 3 filhos por mulher. Hoje, 1,8, com tendência cadente. Isso já tem reflexo na oferta de trabalho: há menos jovens em idade de trabalhar. A pressão salarial cresce. O custo do trabalho sobe mais depressa do que a produtividade. A competitividade das empresas e da economia diminui. A tão decantada era do bônus demográfico está passando mais depressa do que se pensava. A redução da prole é uma imposição da nova realidade do trabalho. O que será do futuro?
Para chegar a um equilíbrio entre trabalho e família, duas transformações parecem imperativas. Os homens terão de colaborar muito mais nas tarefas do lar, como fazem nas nações mais avançadas. Além disso, as instituições que cuidam das crianças e adolescentes terão de se expandir de forma considerável para acomodar os menores em creches e escolas em períodos prolongados.
São dois grandes desafios. O primeiro cai no colo dos homens. O segundo, no do Estado. É isso o que explica, em grande parte, a alta participação das mulheres no mercado de trabalho na Irlanda (64%), na Nova Zelândia (72%), na Finlândia (74%), na Noruega (76%), na Suécia (77%) e na Islândia (81%). O Brasil terá de se preparar desde já para essas mudanças. Ou vamos fazer como Groucho Marx, que dizia: “Por que vou me preocupar com o futuro, se ele não fez nada de bom para mim?”.
Max era preguiço,a mulher que sustentava esse imbecil e gigolo!
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