sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Chefe do plantão culpa médico por demora para atender menina baleada


O chefe da neurologia do hospital Salgado Filho, José Renato Paixão, prestou depoimento na 23º DP (Méier, zona norte do Rio) nesta sexta-feira e disse que não estava trabalhando no dia em que a menina Adrielly dos Santos Vieira, 10, esperou por oito horas até ser atendida e atribuiu a responsabilidade pela falta de atendimento ao plantonista que faltou ao trabalho.
Paixão afirmou que recebeu, de fato, uma ligação do plantonista Adão Crespo Gonçalves, dizendo que não iria ao plantão, mas disse que não poderia trocar a escala. "A responsabilidade é de quem está escalado", afirmou. O médico disse ainda que teve que fazer o plantão do dia 31 no lugar de Adão, depois da determinação da Secretaria de Saúde.
A criança de 10 anos foi atingida por uma bala perdida durante as comemorações de Natal no morro do Urubuzinho, na zona norte do Rio. Segundo a família, a criança brincava na rua logo após receber como presente uma boneca quando caiu no chão com a cabeça ferida. Eles só souberam se tratar de um tiro no hospital. A menina teve morte cerebral declarada no domingo (30).
O delegado responsável pelo caso, Luiz Archimedes, também ouviu a pediatra Lúcia Portela, que atendeu a menina no Salgado Filho quando ela chegou baleada no dia 25. Lúcia não quis falar com a imprensa, mas o advogado que a acompanhou, Marivaldo Sena, afirmou que a médica fez o primeiro atendimento a Adrielly e pediu a transferência para outro hospital.
"Ela solicitou a todo momento ao chefe do plantão para que a paciente fosse removida", contou Sena. Ele disse que a médica não sabe porque a solicitação não foi atendida. "A menina precisava de um atendimento intensivo que na unidade não podia ser realizado. Daí a solicitação que foi feita mas não se sabe porque não foi atendida", explicou.
Além de Lúcia, também compareceram à delegacia as médicas Eneida Reis e Maria Estela Dias que igualmente participaram do atendimento no hospital. Elas saíram sem falar com a imprensa. O chefe do plantão do hospital no dia 25 de dezembro, Ênio Eduardo Lopes, e o médico que operou Adrielly, Mário La Peña, devem ser ouvidos na próxima segunda-feira.
A Polícia Civil abriu inquérito para investigar uma suposta omissão de socorro dos médicos Adão Crespo Gonçalves e Ênio Eduardo Lopes. Para o delegado ainda é preciso esclarecer o motivo pelo qual a criança não foi transferida quando foi constatada a falta de um neurocirurgião. "A investigação ainda está aberta e nenhuma hipótese está descartada", afirmou Archimedes.
O caso provocou grande polêmica na cidade esta semana e impulsionou uma medida da prefeitura para controle eletrônico. Em depoimento à polícia, o médico Adão Crespo Gonçalves afirmou que há um mês não comparecia os plantões no Salgado Filho porque estava insatisfeitos com a escala. Ele foi afastado.

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