segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

As tragédias que ocorrem na vida política e religiosa no Brasil, mas que são, na verdade, palhaçadas


Por Flávio Tavares, jornalista e escritor, Texto originalmente publicado no jornalZero Hora
O verão é tempo de alegria, mesmo que o calor sufoque. E a alegria cresce quando jornais e TV informam, agora, que o governo já não terá contemplação com a corrupção. Daqui em diante, a mão pesada da punição cairá sobre os “tigres grandes” e os “pássaros pequenos”, que escoam o grande roubo. A promessa foi pública, feita por quem é responsável pela política e a administração: “Sem exceção, seremos implacáveis com o setor público e o privado. Se não extirparmos a corrupção, estaremos construindo um muro a nos separar do povo”.
Que a alegria se abrande, porém: as palavras são de Xi Jinping, secretário-geral do Partido Comunista da China, que, em março, será presidente da República lá em Beijing, não em Brasília. O acelerado crescimento chinês provocou distorções sociais profundas, devastou o meio ambiente e criou uma casta corrupta que resiste até ao fuzilamento dos burocratas flagrados no roubo. Não sei o que farão agora, mas o compromisso público dá à população a arma poderosa de exigir, amanhã, o cumprimento das promessas de hoje.
Aqui, para a alegria não sumir pelo ralo, apelamos à ironia. No Rio, o ex-presidente Lula da Silva ganhou o troféu Algemas de Ouro, num concurso pela internet para escolher os “mais corruptos políticos do Brasil”. Teve quase 66% dos votos. O ex-senador Demóstenes Torres recebeu a Algema de Prata e o governador fluminense, Sérgio Cabral, do PMDB, a Algema de Bronze. O inefável Paulo Maluf, deputado e chefe maior do PP, teve Menção Honrosa pela onipresente dedicação de meter no bolso o dinheiro do povo que, em São Paulo, continua a votar nele.
Agora, Maluf foi condenado a devolver R$ 58 milhões desviados da prefeitura paulistana entre 1993 e 96, numa “lavagem de dinheiro” que começava em Nova York e concluía no paraíso fiscal britânico das Ilhas Jersey. Mas a sentença é de um juiz da Corte de Jersey, não de um tribunal brasileiro, o que nos faz rir com acidez, rangendo os dentes e abrindo a boca. Por que somos incapazes de ir ao fundo e punir, quando se trata de corrupção?
Elegemos senadores e deputados para nos representar, sem exigir que ajam corretamente. Em 2012, por exemplo, os senadores embolsaram quase R$ 22 milhões da tal “verba indenizatória” por “passagens, hospedagem, alimentação e consultorias”, ainda que o Senado tenha nove mil servidores, dos quais 285 catalogados como consultores…
Só três senadores (Cristóvão Buarque e Rodrigo Rollemberg, do DF, e Eunício Oliveira, do Ceará) negaram-se a receber a dinheirama. Em 2011 e 2012, o campeão foi Mozarildo Cavalcanti, do PTB de Roraima, que (além das 14 remunerações mensais recebidas por todos) abocanhou quase meio milhão de reais por ano, isentos do Imposto de Renda.
Num cenário em que se aluga até o apoio ao governo, a quem recorrer? Restam as religiões, em si puras e corretas. Mas, fora das confissões tradicionais, muitas das “novas igrejas evangélicas” dedicam-se a juntar dinheiro para seus chefes.
A revista Forbes, dos EUA, que sabe tudo dos ricaços do mundo, revelou que o patrimônio de Edir Macedo, chefe da Igreja Universal do Reino de Deus, criada em 1977, vai a quase R$ 2 bilhões. O chefe da Igreja Mundial do Poder de Deus, Valdemiro Santiago (que se diz “apóstolo” e usa um chapelão branco que contrasta com a pele negra) tem R$ 450 milhões. Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, teria mais de R$ 300 milhões e o chefe da Igreja Internacional da Graça de Deus, R.R. Soares, mais de R$ 255 milhões, seguindo-se outros “menores”.

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