quinta-feira, 4 de abril de 2013

Os arranjos do poder e da economia na China e a possibilidade disso tudo virar democracia


Por Rodrigo Sias - Economista do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Desde a aproximação de Mao Tsé Tung com os Estados Unidos, nos anos 1970, a doutrina do Ocidente para a China tem sido uma só: esperar que a liberdade de mercado acabe tendo como consequência, a liberdade política.
Quando o líder chinês Deng Xiaoping, sucessor de Mao, proclamou que “não importa a cor do gato, desde que coma o rato” e iniciou suas profundas reformas econômicas, o Ocidente, em geral, comemorou.
Como o socialismo é inviável como sistema econômico, pensou-se que a racionalidade levaria ao abandono total do comunismo e a adoção, cedo ou tarde, do capitalismo, dos mecanismos de mercado e da democracia.
Parecia ser este o pensamento de Milton Friedman quando foi ao país oriental proferir palestras de economia para os dirigentes do partido comunista chinês.
Com as reformas, a China tornou-se um dos países que mais recebem investimentos estrangeiros e passou a registrar taxas de crescimento econômico espetaculares, que finalmente, a tornaram a segunda maior economia do mundo. O caso chinês, porém, não é singular.
Visto de uma perspectiva histórica, observa-se que o comunismo sempre contou com a assistência econômica dos países capitalistas, em especial, quando estes eram convencidos da possibilidade de abertura dos regimes socialistas.
O livro “The best enemy money can buy”, de Antony C. Sutton, mostra como os países capitalistas ocidentais, ao injetarem recursos na combalida economia russa, após a revolução bolchevique, permitiram a sobrevivência e o posterior fortalecimento do comunismo naquele país.
Até hoje, isto ocorre, como demonstra o fenômeno chinês e os casos de Vietnã e de Cuba. Sob esta perspectiva, vê-se que o pragmatismo de Xiaoping seria apenas versão chinesa da manobra tática de Lênin nos anos 1920, a Nova Política Econômica (NEP): “um passo atrás, para dar dois passos à frente”.
Durante o início de março, o Congresso do partido comunista na China esteve reunido para eleger o novo presidente do país. Segundo informações, o número de participantes bilionários no congresso foi de 83, sendo 31 congressistas e 52 consultores da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês.
Nos EUA, país capitalista por excelência, não existe nenhum bilionário em ação no Congresso. O membro mais rico é Michael McCaul, um republicano oriundo do Texas, com patrimônio estimado em menos de US$ 500 milhões. O que aconteceu então? Os próprios delegados do Partido Comunista Chinês finalmente abandonaram o comunismo?
Na verdade, o comunismo na China vai muito bem, obrigado. Os chineses simplesmente seguiram os ensinamentos do revolucionário Aleksandr Parvus, companheiro de Rosa Luxemburgo e Lênin.
Para Parvus, “a melhor forma de derrubar o capitalismo é nós mesmos nos tornarmos capitalistas”. Isso quer dizer o seguinte: o reconhecimento de que o socialismo não funciona como sistema econômico não abala em nada o poder do partido único.
Foi como sistema de poder político que o comunismo mostrou-se muito eficiente, em especial, na versão chinesa. Os chineses simplesmente adotaram o que eles próprios chamam de “economia socialista de mercado”, ou seja, a gestão socialista do capitalismo.
Esperar que este arranjo resulte em democracia é uma ilusão tão grande como acreditar em coelhinho da Páscoa.

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