Na agenda dos
parlamentares brasileiros e italianos, um mesmo assunto polêmico está sendo
debatido nesses dias. O Governo brasileiro está forçando a aprovação rápida do
novo Marco Legal da Mineração. Enquanto isso, a produção siderúrgica a partir
do minério de ferro extraído em Carajás-PA está provocando graves impactos na
Itália.
A
Câmara dos Deputados está discutindo em Brasília o novo Marco Regulatório da
mineração. O Governo Federal brasileiro impôs regime de urgência ao Projeto de
Lei e está impedindo o acesso a esse debate por parte da sociedade civil
organizada.
Enquanto
isso, à mesa dos senadores de Roma chegou uma carta dos movimentos sociais
sobre Ilva, a maior empresa de aço na Europa, e sobre os graves impactos
socioambientais provocados pela firma. O minério de ferro que alimenta essa
siderúrgica europeia vem das minas de Carajás-PA, no coração da Amazônia, onde
numerosas comunidades também denunciam violações por parte da empresa Vale e
falta de atendimento por parte do poder público.
A
carta aos senadores italianos é escrita por Alessandro Marescotti, o fundador e
atual presidente de Peacelink,
uma Rede ativa há mais de 20 anos a nível nacional e internacional no campo da
informação social e ambiental. Aos poucos essa denúncia (em anexo a versão em
português) está aparecendo em vários mídias, como “La Gazzetta del
Mezzogiorno”, um histórico jornal do Sul do País.
No
documento, Marescotti explica que «vem da Amazônia o mineral que é respirado
pelos moradores de Táranto (a cidade onde a empresa Ilva está instalada),
depois de ter atingido os pulmões dos nativos brasileiros». Além disso, «muitas
florestas sumiram devido à absurda intensidade da extração do minério de
ferro». Peacelink oferece ao público um estudo aprofundado sobre o mercado
internacional do aço, a disponibilidade das reservas de minério de ferro, a
instabilidade dos preços internacionais e os impactos da siderurgia na Itália (aqui uma
primeira seção do estudo, em italiano).
A
mineração e seus ciclos de produção estão provocando prejuízos a todas as
latitudes. Os dados referidos na Carta aos Parlamentares Italianos são bem
claros: «hoje, no mundo, as usinas siderúrgicas podem produzir 1,8 bilhões de
toneladas de aço, porem o consumo mundial é de apenas 1,5 bilhões».
O
major jornal econômico e financeiro do mundo, o “Wall Street Journal”, escreve
que existem «300 milhões de toneladas por ano de excesso de capacidade
produtiva», entre os quais estão os 9 milhões de toneladas ânuos da Ilva.
Aparece
claro, então, que este modelo de extração minerária esteja crescendo em função
do aumento do lucro privado e restrito a poucos investidores, gerando impactos
públicos, amplos e muitas vezes silenciados. Marescotti lembra que «Lester
Brown, que lidera o World Watch
Institute, mediu que a disponibilidade das reservas de ferro no
mundo será exaurida daqui a 64 anos». «Continuar a propor este modelo de
produção e consumo de aço, além de ser insustentável pelo mercado em contração,
é prejudicial para o futuro do nosso planeta, cujos recursos estão se esgotando
não só no setor da energia, mas também no setor das matérias primas».
No
dia-a-dia, escreve o fundador de Peacelink, «o sistema está pedindo de promover
um desenvolvimento que, além de gerar exploração, doenças e morte, produz mais
aço do que è necessário». E, continua Marescotti, «para produzir mais aço è
preciso ampliar anormalmente a demanda econômica global, com grandes obras
desnecessárias e com a produção de carros em excesso». Os mega empreendimentos,
a urbanização desenfreada e a indústria automobilística, de fato, são os
maiores clientes da indústria siderúrgica no mundo, especialmente na China.
Críticas
no mundo inteiro
A sensibilidade mundial sobre este problema é crescente. Existem numerosas denúncias sobre impactos socioambientais e trabalhistas da mineração; o prêmio internacional Public Eye Awards conferido à Vale em 2012 como “Pior empresa do mundo”, em ocasião do Fórum Econômico Mundial, é uma prova disso.
A sensibilidade mundial sobre este problema é crescente. Existem numerosas denúncias sobre impactos socioambientais e trabalhistas da mineração; o prêmio internacional Public Eye Awards conferido à Vale em 2012 como “Pior empresa do mundo”, em ocasião do Fórum Econômico Mundial, é uma prova disso.
Mesmo
assim, o Governo brasileiro continua apoiando incondicionalmente a expansão da
mineração no País. A proposta do novo Marco Regulatório, de fato, não previu
nenhuma consulta pública.
O
Comitê Nacional em Defesa dos Territórios frente à Mineração, composto por mais
de 50 organizações da sociedade civil organizada (entre as quais também a OAB
Federal e a CNBB), não consegue diálogo eficaz com o Governo a esse respeito e
ainda denuncia, alarmado, a permanência do regime de urgência para o debate
parlamentar.
Enquanto
isso, os processos de extração mineraria e os relativos investimentos
multinacionais crescem incessantemente. Entre os anos 2001 e 2011, a
participação da indústria extrativa mineral no PIB brasileiro saltou de 1,6%
para 4,1%. Uma situação preocupante por várias razões. Por exemplo, em 2010 a
indústria mineral consumiu mais energia que todas as casas brasileiras
juntas.
A
própria mina de Carajás, que alimenta entre outras a siderúrgica Ilva na
Itália, está em fase avançada de expansão, com duplicação prevista do inteiro
sistema de escoamento: Estrada de Ferro Carajás e porto de Ponta da Madeira em
São Luís-MA. Mais de cem comunidades que se encontram nos territórios que serão
atingidos por essa expansão pedem socorro: quem as escutará, para evitar a
duplicação dos impactos que já sofrem há trinta anos?
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