quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Se falta vontade política, sobra covardia

parque

Quando se mede o nível de desenvolvimento de um país, reza a cartilha que devemos utilizar critérios objetivos. Dado não existir um indicador que cubra todas as variantes analisadas, o melhor é a complementação de dados. Com o PIB, vê-se o crescimento econômico; o IDH, crescimento de níveis de bem-estar; o Gini, disparidades de distribuição de renda.
O motivo é óbvio: sem dados estatísticos minimamente objetivos, a formulação de políticas públicas inevitavelmente perderá eficiência. Mais do que isso, em muitos casos, pensar em ações estatais coordenadas torna-se impossível.
Porém, há sempre espaço para considerações subjetivas sobre como definir o nível de subdesenvolvimento de um país, cidade ou povo. Em avaliações mais “românticas”, acho que deve ser possível medir o quão atrasado é o nível de civilidade de seu povo através de posturas de seus governantes.
Lembrando sempre que acredito muito na máxima de que “um governante é espelho de seus governados”, há uma variante subjetiva que considero importante para medir o avanço civilizatório de um país: a falta de coragem.
Item raro nos dias de hoje em todo o cenário político mundial, a coragem é condição importante para o Estado. Sem políticos corajosos, a máquina pública está sempre sujeita à subserviência aos interesses privados. Ao se calar diante de flagrantes injustiças, governantes apequenam o poder público, ratificando desmandos de interesses individuais sobre o bem comum.
Logicamente, nenhum governante tem só um lado. Como qualquer ser humano, há sempre qualidades e defeitos (apesar de termos vários casos em que as qualidades devem estar reservadas apenas aos seus familiares). Porém, se há um traço comum em nosso Brasil subdesenvolvido é a covardia de nossos principais quadros políticos. Lula, Dilma, Serra, Alckmin, Kassab, Haddad, Aécio, Marina Silva… Todos são permeados por uma covardia bisonha, que apequena não apenas seus currículos, mas as máquinas públicas que governam (ou governaram).
E como diz o ditado, o diabo está nos detalhes. Poderia aqui vaticinar contra o conluio feito a mando do PSDB no metrô de São Paulo, ou do mensalão mineiro, ou do petista. Vou usar um exemplo menor, exatamente para mostrar como há uma aura de covardia que conecta a todos os políticos hoje no Brasil.
No próximo domingo vence o prazo para que a Prefeitura de São Paulo desaproprie o terreno localizado entre as ruas Augusta, Caio Prado e Marquês de Paranaguá. Com quase 25 mil m², há anos a vizinhança pede um pequeno parque no local. A região, que tem concreto de mais e verde de menos, vai perder o pouco que tem. Dotado de árvores centenárias, o terreno deve virar dois espigões de 30 andares, um para escritórios e outro residencial.
A atual gestão declara que não há R$ 70 milhões em caixa para desapropriar o espaço. Isso, obviamente, é mentira. O que não há é interesse político em destinar o dinheiro para o projeto. Apesar de parecer muito dinheiro, nem R$ 100 milhões não seria muito, se levarmos em conta a quantidade infinita de melhoria urbana que o parque representaria. Isso sem contar que poderíamos licitar a área para empreendimentos culturais privados, como teatros, cinemas etc. Qualquer coisa que mantivesse o verde e garantisse o livre acesso da população ao local.
E se falta vontade política, sobra covardia. Sim, porque Haddad e Alckmin poderiam pagar tranquilamente o valor da desapropriação. Até o governo federal – via Ministério das Cidades – poderia ajudar. Mas não vão. Preferem o silêncio, já que agir a favor do pequeno número de eleitores mobilizados traria menos vantagens eleitorais do que o custo político de domar o ímpeto megalomaníaco das empresas da construção civil.
E isso se deve também à completa falta de noção de espaço público que o brasileiro médio tem. É por isso, inclusive, que venho batendo nesta tecla. Se todos os moradores do entorno saíssem às ruas para exigir a construção de outro parque na região, certamente a coisa mudaria de figura.
Assim, ao menos nos ensaios e textos sobre subdesenvolvimento, deveríamos incluir um medidor de covardia dos governantes, já que é condição para que sigamos subdesenvolvidos a manutenção da subserviência do Estado aos interesses privados. E nada melhor para manter a condição de subserviente do que a covardia.
A ressalva, como disse, é saber que esse quadro só não muda porque um governo é espelho de seu povo. Se de Brasília à Augusta há uma conivência covarde, ela só é reflexo do povo brasileiro. Uma pena.

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