Quem tem medo da matemática? Muitos de nós formamos desde muito cedo a ideia de que a matemática é difícil, complicada e fazemos de tudo para livrar-nos dela, seja desligando atenção na aula ou abandonando a escola, seja escolhendo profissões das quais a matemática não faça parte. No entanto, como sociedade, qualquer discussão séria sobre a qualidade da educação no país não pode se furtar a examinar o impacto dessa aversão à matemática que acaba sendo o verdadeiro destruidor de sonhos e o “grande bicho-papão” da maioria das crianças e jovens no Brasil.
Segundo o MEC, apenas 42% dos alunos do 3º ano do Ensino Fundamental dominam operações simples como adição e subtração. A recém-publicada Prova ABC mostrou que 70,8% das crianças de oito anos no país não têm aprendizado suficiente em matemática. No Ensino Médio, como mostra a Prova Brasil, 90% dos alunos terminam sem saber a matemática que deveriam. No Pisa, a matemática é a disciplina na qual o Brasil está pior (57º lugar no Pisa de 2009). Institutos e ONGs comprometidas com a melhoria da educação no país falam em “crise no ensino da matemática no país” e clamam por intervenções que atuem nos primeiros anos de educação.
Mas o que pode ser feito? Parece óbvio que qualquer conjunto de soluções deve incluir um plano para que as crianças gostem de matemática. E a solução deve incluir uma concepção pedagógica na qual as crianças não tenham medo ou vergonha de errar para que possam participar do seu aprendizado e que o ato de pensar seja parte do conhecimento matemático (ao invés de uma concepção baseada no desenvolvimento de capacidades operatórias formais e de procedimentos repetitivos).
Novas metodologias para o ensino da matemática existem, como a do The Math Circle (o Círculo da Matemática) de Harvard, desenvolvida pelos professores Bob e Ellen Kaplan, nas quais a matemática é trabalhada de forma cooperativa, lúdica e divertida para estimular o aprendizado e gosto das crianças pela matemática. Se nossas crianças não gostarem de matemática desde pequenas, não gostarão depois de grandes. Se não forem estimuladas a construir um pensamento matemático, terão dificuldades com tudo mais que usa matemática, como as ciências.
Pensar seriamente a pedagogia usada para ensinar matemática a nossas crianças não significa ignorar a importância da alfabetização, dado que elas representam capacitações complementares. Mas precisamos parar de “maltratar nossas criancinhas” com metodologias repetitivas, formalistas, chatas, obscuras e estimular novas concepções pedagógicas que respeitem as crianças em sua autonomia e promovam métodos de aprendizado cooperativos que contribuam à promoção de ambientes de ensino mais humanos.
Por Flávio Comim, professor da UFRGS e da Universidade de Cambridge
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