sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Jornalismo imparcial ou conjuntural?

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Disse um grande amigo meu que nos últimos dias a Folha de São Paulo parece estar sendo comandada por seus estagiários. Não sei se ela inteira, mas o caderno Poder realmente anda mudado.
Não é novidade para ninguém que a FSP sempre foi um anexo do escritório político de José Serra. Meio intelectual, meio de esquerda (para usar uma expressão de um colunista deles), a Folha sempre se vangloriou de ter “todo o espectro político” nas suas páginas. De fato, o jornal é até que mais oxigenado que boa parte dos periódicos nacionais, que costumam funcionar como uma espécie de Diário Oficial da elite brasileira. Mas é sempre bom lembrar que a gente pode defender a união homoafetiva ao mesmo tempo em que morre de nojinho da intervenção do Estado no mercado.
Assim, não é porque o oxigênio ainda permeia algumas colunas do jornal que dá pra dizer que ele cumpre a sua tão propalada independência editorial.
E isso só me deixa mais intrigado. Esta semana foi – no quesito denúncias – bem sui generis.
Por que a Folha de São Paulo está dando tanta atenção às denúncias do cartel do metrô? Por que ela chegou a dar uma capa afirmando que José Serra abençoou o cartel? Seria a prova de que a imprensa escrita finalmente está acreditando nas próprias mentiras, se tornando isenta?
Como já disse anteriormente, a imprensa parece dar a mão para não perder o braço. Só que esta informação segue valendo mais para a Globo, que dá um segundo de reportagem para cada 100 milhões de dólares investigado. Mas quando tratamos da FSP, seguir dizendo que ela está ignorando as denúncias, é mentiroso. Posso dizer que ela entrou aos 45 minutos do segundo tempo. Posso dizer que há um zelo jornalístico nunca antes visto na história desse país. Mas de fato, ela mudou de postura.
E desconfio de duas grandes razões: a facilidade de acesso à informação e o mês de junho (que como o jornal Valor apontou, é o nosso “mês que não acabou”).
Dado que nada indica uma briga da família Frias com o sultanato tucano, acho que o primeiro ponto diz respeito à facilidade do jornal em captar informações com a sua fonte. Ao longo desta semana, todos os dias observamos a publicação de informações e denúncias sobre o caso.
Mas isso parece ocorrer não apenas pelas fontes do jornal. Boa parte das denúncias já foi investigada por outros jornais. Todos estrangeiros. Der Spiegel, Le Monde e outros diários publicam denúncias sobre compra de políticos brasileiros pela Alstom há mais de 10 anos.
Acontece que isso não seria suficiente. Por isso, o segundo motivo – as manifestações de junho – me parece mais importante.
Quem esteve nas ruas durante o mês de junho percebeu que um dos poucos pontos que unia todas as manifestações do país era a aversão aos meios de comunicação. E por todo espectro ideológico presente. Na esquerda, o mal estar com nossa “grande mídia” já é antigo. Como diria Mino Carta, até o reino mineral sabe que a democratização dos meios de comunicação é uma pauta tradicional da esquerda brasileira (menos de uma parte do governo petista – mas tudo bem, é um pessoal que não é de esquerda mesmo).
Já o senso comum e a direita organizada mostraram uma repulsa pouco usual à Globo e alguns outros veículos de comunicação. Talvez por acharem que a grande mídia tenha pegado muito leve com Lula e Dilma. Talvez por entenderem que a imprensa operou muito para se apropriar das pautas das ruas ou ainda pela postura proto-fascista de Arnaldo Jabor, FSP e Estadão, que deslegitimaram o MPL, defendendo a Tropa de Choque e o governo de São Paulo na fatídica quinta-feira na Consolação.
Enfim. Mesmo se esquecendo que a alta aprovação do governo inviabilizava sua postura mais tradicional (que alguns costumam apontar como golpista), é fato que a repulsa aos grandes meios de comunicação era visível em todos os manifestantes.
E acho que este seja o grande motivo da Folha estar “abrindo a porteira”. O jornal que sempre se vangloriou de ser o grande palco de discussão do Brasil, perde rapidamente seu posto para as redes sociais. Parece uma busca por legitimidade, uma busca da sua imparcialidade perdida, que só existiu na cabeça da redação e dos publicitários contratados para fazer suas peças de marketing. Somando a isso as semanas de silêncio da grande imprensa sobre as denúncias do caso Siemens, temos um motivo razoável para a mudança repentina do diário.
De qualquer forma acho importante o que está acontecendo. O problema é a conveniência e o timing. Agora, com o eixo da divulgação midiática se movendo rapidamente para a internet e as redes sociais, o destino dos diários impressos parece caminhar a passos largos para do Washington Post, vendido ao fundador da Amazon por menos de R$ 600 milhões. Troco de pão se considerarmos que o jornal que deu o Watergate ainda é uma das maiores referências jornalísticas do mundo.    http://www.rodrigosalgado.com/jornalismo-imparcial-ou-conjuntural/

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