sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Arena Corinthians, Itaquera e os problemas que ninguém vê

Arquibancadas e campo: vista da Arena por dentro

Em meio à construção da Arena Corinthians, população do bairro sofre com alguns problemas  
O anúncio de Itaquera como sede de São Paulo para a Copa do Mundo de 2014 deu ânimo aos moradores do bairro, localizado na zona leste da capital paulista. A expectativa – assim como as promessas feitas – era de que problemas estruturais da região seriam solucionados a partir das obras que deveriam ser feitas no bairro para o mundial. Ou seja, a Copa do Mundo traria progresso a Itaquera. Mas a Copa não está dando apenas isso ao bairro. Hoje, Itaquera sofre com a especulação imobiliária; moradores Favela da Paz, que fica próxima ao futuro estádio do Corinthians, local da abertura do Mundial, correm risco de ser despejados; e o trânsito, sempre caótico, cresceu desde que as obras de mobilidade urbana começaram.
Valorização?
Superficialmente, Itaquera tinha tudo para se tornar um “sonho”. O problema é que desde que o futuro estádio do Corinthians foi escolhido como sede de São Paulo para o Mundial, o bairro sofre com a especulação imobiliária.
Um apartamento simples na região, que há cinco anos custava R$ 60 mil, hoje é negociado por R$ 190 mil. Para quem tem casa própria em Itaquera, principalmente nas imediações da Arena Corinthians, a valorização dos imóveis é muito bom. O problema fica para quem mora de aluguel.
“O aluguel aumentou muito por aqui. Hoje eu gasto R$ 800 de aluguel e moro num apartamento simplesinho. Ainda bem que tenho meu filho para dividir as contas de casa comigo”, conta Luzia da Silva, 51 anos, moradora de Itaquera.
O que está acontecendo no bairro é simples: quem pode pagar essa valorização do aluguel continua em Itaquera, mas quem não pode está migrando para cidades vizinhas, no Alto Tietê, como Ferraz de Vasconcelos, Mogi das Cruzes e outras. É uma espécie de exclusão.
A poucos quilômetros do futuro estádio do Corinthians há o AMA (Assistência Médica Ambulatorial) Padre Manoel da Nóbrega, onde, às vezes, faltam médicos para atender a população. Uma moradora de Itaquera, que esperava atendimento nesse AMA, confidenciou para nossa reportagem que demorou um ano para ser chamada para o atendimento do proctologista no AMA Padre Manoel da Nóbrega.
Moradia
'São cinco mil famílias preocupadas', diz o líder comunitário Valter de Almeida
Moradores da Favela da Paz, localizada a 800 metros da Arena Corinthians, também correm o risco de serrem despejados de suas casas. Na comunidade, onde vivem 300 famílias, há 76 imóveis próximos a um córrego que passa na favela que são considerados como “área de risco”. Segundo moradores, a Secretaria Estadual de Habitação quer tirar todas as famílias de lá e, para isso, ofereceu uma bolsa aluguel no valor de R$ 300. Os moradores não aceitaram.
Eles lutam para que apenas as pessoas que vivem nas áreas de risco da favela sejam retiradas e que restante das famílias continuem no local. “O problema é que a Cohab não está ajudando e não tem nada decidido. Só não tiraram a gente daqui ainda porque estamos lutando, inclusive na Justiça”, conta o líder comunitário Drancy Silva, morador da Favela da Paz. Segundo ele, há 940 apartamentos da Cohab vazios na região que poderiam ser usados para realocar os moradores que tiverem de sair da favela.
“Ninguém da prefeitura ou de alguma secretaria fala nada, se vamos ter que sair ou não. Os moradores estão apavorados. É chato ver tanto dinheiro público para o estádio do Corinthians enquanto esse dinheiro poderia ser investido em outra área, como moradia”, desabafa André Luiz Vicente, 31 anos, também morador da Favela da Paz.  
A Arena Corinthians custará R$ 800 milhões. Desse total, R$ 400 milhões vieram de incentivos fiscais da prefeitura de São Paulo. Outros R$ 400 milhões vieram do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Sobre essa questão, alguns moradores discordam. “Se ajudaram o São Paulo a construir seu estádio e se ajudaram o Palmeiras, por que não podem ajudar o Corinthians?”, questiona um corintiano, que mora próximo ao futuro estádio, que não quis se identificar. Ele diz também que antes do estádio ser construído, o terreno que abriga a Arena Corinthians era tomado por usuários de drogas, que tiveram que sair devido às obras.
Obras
Para receber a Copa do Mundo, Itaquera precisa de mudanças estruturais, já que o trânsito na região é bastante ruim. As principais avenidas próximas à Arena Corinthians passam por mudanças desde maio deste ano.
Famoso painel de LED em fase de finalização
Para melhorar o trânsito, a Radial Leste sofre alterações, mas enquanto essas obras são tocadas, o trânsito piora. A previsão de conclusão de todas as obras que fazem parte do entorno do estádio é outubro do ano que vem. Portanto, três meses após o mundial.
Para os moradores, mesmo que obras prometidas para a Copa do Mundo não fiquem prontas a tempo da Copa, isso pouco importa. “O importante é que está sendo feito e isso é muito bom para o nosso bairro, que está crescendo muito com a Arena do Corinthians e essas obras de mobilidade urbana”, defende Geraldo Tolentino, morador de Itaquera. 

Por David Bonis 

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