Ainda estou começando a leitura sobre o IDH-M, publicado pelo PNUD-ONU na última segunda-feira. Além de dar um ânimo no governo e um cala-boca na reaçada, já dá pra perceber algumas coisas.
Aliás, antes de mais nada, é bom lembrar que o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – foi criado em 1990 pelos economistas Amartya Sen e Mahbub ul Haq. Adotado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o índice é mais um item a ser analisado para medir o grau de desenvolvimento de um país. Complementar ao PIB (que mede exclusivamente o crescimento econômico) e ao Coeficiente de Gini (utilizado para medir a desigualdade de distribuição de renda). Como o próprio Atlas PNUD 2013 aponta, a vantagem do IDH é centrar a discussão sobre desenvolvimento nas pessoas e não na economia.
O IDH-M é uma versão do IDH em nível municipal. Sua publicação é fundamental para entendermos o processo de crescimento (e desenvolvimento) de cada município, apontando distorções regionais e facilitando a compreensão da dinâmica da economia e das políticas públicas de um país.
Do que pude ver, já dá pra dizer o seguinte:
1. Primeiramente, precisamos apontar quem é responsável por o que. Comparando os mapas de 1991, 2000 e 2010, vemos que os anos FHC promoveram o aumento do IDH no eixo sul-sudeste. Existem centenas de fatores, mas arrisco dizer que o controle da inflação tem relação direta com isso. Levando em conta que o maior beneficiário da inflação baixa é quem já tem emprego, a melhora vai ocorrer nos lugares onde já há infra-estrutura para sua oferta;
IDHM 1990, 2000 e 2010
Muito alto (acima de 0,800) – AZUL
Alto (0,700 até 0,799) – VERDE
Médio (0,600 até 0,699) – AMARELO
Baixo (0,500 até 0,599) – LARANJA
Muito baixo (0,000 até 0,499) – VERMELHO
Muito alto (acima de 0,800) – AZUL
Alto (0,700 até 0,799) – VERDE
Médio (0,600 até 0,699) – AMARELO
Baixo (0,500 até 0,599) – LARANJA
Muito baixo (0,000 até 0,499) – VERMELHO
2. Do outro lado, temos a relação entre 2000 e 2010. Aproveitando o crescimento chinês, os anos do governo Lula mudaram de fato a cara do Brasil, mesmo dentro do eixo sul-sudeste. O país ainda é tenebrosamente desigual (25% das cidades ainda tem um IDH muito baixo – ou seja, 1 a cada 4 municípios), mas a melhora é vísivel;
3. Parte desta mudança tem a ver com a rede de proteção social criada a partir do governo Lula. Aqui, faço uma pausa para explicar o óbvio: o governo Lula não se apropriou dos programas de FHC. Sim, pode ter se valido de alguns nomes e estruturas, mas como o mapa comparativo mostra, o aperfeiçoamento é latente. A criação do cadastro único permitiu que o governo central tivesse um ganho de eficiência sem igual. Apesar de todas as fraudes e afins, o Bolsa Família é certamente um dos melhores programas do mundo;
4. Votando ao IDH-M, vale mostrar o aumento da expectativa de vida. Entre 2000 e 2010, saltamos de 64,7 para 68,6 anos. De 2000 para 2010, chegamos a 73,9 anos. (3,9 contra 5,3). Isso em números absolutos. Quando comparamos os mapas fora do eixo sul-sudeste, aí a coisa fica gritante;
IDHM Longevidade no Brasil – 1991, 2000, 2010
Muito alto (acima de 0,800) – AZUL
Alto (0,700 até 0,799) – VERDE
Médio (0,600 até 0,699) – AMARELO
Baixo (0,500 até 0,599) – LARANJA
Muito baixo (0,000 até 0,499) – VERMELHO
Muito alto (acima de 0,800) – AZUL
Alto (0,700 até 0,799) – VERDE
Médio (0,600 até 0,699) – AMARELO
Baixo (0,500 até 0,599) – LARANJA
Muito baixo (0,000 até 0,499) – VERMELHO
5. A classe média (e a alta) urbana não tem ideia do tamanho do fosso social que existe no Brasil. Os donos do discurso anti-bolsa tem conhecimento “de menos” e ódio de classe “de mais”. Ao contrário do que dizem, o Bolsa-Família (BF) demonstra um nível de efetividade fantástico. Custando apenas 0,5% do PIB (a Previdência consome 13%, acho), o programa é sim o responsável direto pela evolução do IDH fora do eixo mais industrializado do país;
6. O BF é responsável, mas não só. Já disse antes que o maior programa de distribuição de renda do governo do PT é o ganho real do salário mínimo. Juntamente com a expansão do crédito, ele é responsável direto pelo aumento do poder de compra brasileiro. Abaixo é possível ver a mudança gritante no quesito renda:
Muito alto (acima de 0,800) – AZUL
Alto (0,700 até 0,799) – VERDE
Médio (0,600 até 0,699) – AMARELO
Baixo (0,500 até 0,599) – LARANJA
Muito baixo (0,000 até 0,499) – VERMELHO
Alto (0,700 até 0,799) – VERDE
Médio (0,600 até 0,699) – AMARELO
Baixo (0,500 até 0,599) – LARANJA
Muito baixo (0,000 até 0,499) – VERMELHO
7. Todo esse quadro mostra que não só as políticas de programa sociais + recomposição do salário mínimo + expansão do crédito foram fundamentais para acelerar o crescimento econômico do país e mais ainda, para aumentar o desenvolvimento humano brasileiro;
8. Espero que essa pesquisa enterre de uma vez por todas toda a babaquice proto-fascista sobre conceder ou não auxílios pelo governo. Para a classe média mais aguerrida no discurso anti-humanitário, aconselho a leitura mais detalhada do relatório, disponível aqui;
9. Entretanto, como visto, se as coisas melhoraram muito, ainda estamos longe do ideal. Seja o mapa completo do IDH-M (o primeiro de 2010 que coloquei) seja pelo IDH-M renda, está claro que há muito que fazer;
10. A prova disso é o nosso sistema educacional, que está pra lá de falido. É fundamental refundar o modelo educacional brasileiro, visivelmente incapaz de dar conta da tarefa que temos pela frente. Só para lembrar, estamos entre os piores do mundo quando o assunto é educação;
11. Mas isso não é tudo. Como lembrou o presidente do IPEA (Marcelo Neri) no programa “Entre Aspas” da Globo News, quando o assunto é economia social, o país nadou de braçada nos últimos vinte anos, especialmente entre 2000 e 2010. Porém, quando olhamos para o cenário macro-econômico, a coisa vai mal. Nosso pátio industrial só diminui, nossa mão de obra é bastante improdutiva, nosso sistema tributário é horrendo e nossa indústria é altamente dependente da tecnologia internacional. Acho que com exceção da Embraer, não temos nenhuma outra grande empresa que faça inovação tecnológica em grande escala;
12. Por isso, lembrando que o aniversário dele foi dia 26 de julho, passa da hora de ressuscitarmos as ideias de Celso Furtado: inovação na indústria, participação estatal eficiente, incentivo ao mercado interno (como consumidor E produtor) e distribuição equânime de renda (entre as pessoas e as regiões do país). Mas acho que isso é assunto para outro post. http://www.rodrigosalgado.com/algumas-consideracoes-sobre-o-idhm/
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