Por Antoninho Marmo Trevisan é presidente da Trevisan Escola de Negócios, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República (CDES)
Tenho observado conteúdos na mídia brasileira, assinados por economistas e analistas internacionalmente famosos, sentenciando categoricamente à desindustrialização os países candidatos ao desenvolvimento.
Recorrendo ao laboratório da história, esses especialistas demonstram os exemplos dos Estados Unidos e da União Europeia, nos quais os serviços predominam no PIB e dos quais a manufatura migrou para nações menos prósperas, com mão de obra barata, despreocupação ambiental e custos genericamente mais baixos.
É o dogma da chamada sociedade pós-industrial, que se mostrou economicamente exequível antes da crise iniciada em 2008. Só economicamente…
Afinal, sob o ponto de vista de uma ética global, é bastante questionável o oportunismo de transferir fábricas para nações que poluem, submetem seus operários a condições indignas de trabalho, manipulam o câmbio e fazem qualquer negócio, inclusive dando de ombros à propriedade intelectual e industrial, para ancorar seu crescimento na produção manufatureira.
Ressalva ética a parte, também é o caso de se questionar a lógica econômica da desindustrialização.
A indústria desenvolve tecnologia, cria empregos de qualidade e de modo intensivo, acrescenta produtos e bens de alto valor agregado à pauta de exportações, detém patentes importantes para um país e contribui muito para sua independência produtiva.
Portanto, é fator exponencial às metas de crescimento das nações emergentes neste século, reafirmadas pela presidente Dilma Rousseff e os chefes de governo dos Brics, no encontro que mantiveram na semana passada, na África do Sul.
A crise mundial mostrou a importância da indústria na estrutura econômica, algo, aliás, pontuado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, durante sua campanha à reeleição.
Ele falou com todas as letras sobre a necessidade de repatriar a manufatura norte-americana. Sem fábricas e sem ter autonomia para ajustar a oferta à demanda, fica difícil criar empregos, gerenciar a economia e até mesmo controlar a inflação.
O Brasil, que vem enfrentando com razoável sucesso a crise internacional, parece, em tese, seguir a lógica da sociedade pós-industrial. Estamos quase com pleno emprego, conseguindo crescer, mesmo que pouco, como em 2012, e mantendo a economia dinâmica.
Os serviços têm significativa expansão, o agronegócio avança, o sistema financeiro vai bem, mas a indústria recua.
Não podemos nos resignar a isso. Dogmas existem para serem quebrados por governos, empresários, trabalhadores e povos corajosos, que não têm medo de mudar a história.
Pois bem, se soubermos garantir à indústria brasileira condições adequadas de custos – financiamentos com juros menores, menos impostos, racionalidade nas relações trabalhistas, câmbio equilibrado, segurança jurídica e menos burocracia -, resgataremos rapidamente a sua competitividade.
Poderemos continuar trabalhando e criando empregos sob a ética da dignidade do capitalismo democrático, sem temer (e repudiando!) a concorrência daqueles que pagam seus trabalhadores com um prato de comida.
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