quarta-feira, 1 de maio de 2013

Castigo Nordestino


“Ó Deus, cadê a chuva que não chega? O gado está morrendo e não temos mais condição de dar ração a todos os animais”. O clamor do criador, Aldeci Alves Vieira, 77 anos, da localidade de Riacho Vermelho, na zona rural deste município, na região Centro-Sul, é um lamento diário de milhares de produtores rurais, ante o temor de um segundo ano de estiagem no sertão do Ceará. Nas áreas de criação e nas margens das rodovias, as carcaças de bovinos mortos denunciam a gravidade da seca que atinge o Estado desde o ano passado.
            O desespero toma conta dos criadores, tanto da agricultura familiar, quanto os pequenos, médios e grandes produtores. Os estoques de ração estão se acabando. O milho vendido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é insuficiente para atender sequer 30% da demanda. As reservas de água também estão se esgotando.
De um total de cem bovinos, o criador Aldeci Vieira já perdeu 26 animais, vacas e bois, em sua propriedade. “Os mais fracos estão morrendo de fome”, disse. “A gente vai dividindo a ração, dando a uns e outros não, mas agora acabou o estoque, e não tenho mais condição de comprar, e o pior é ver os bichos morrerem”.
“Os animais estão morrendo, não temos mais o que fazer, sem condição de comprar ração e a situação está piorando a cada dia”, disse o pequeno criador, José Vicente Lima. Para o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Ceará (FAEC), Flávio Sabóia, a realidade é de desespero e tende a se agravar, caso ocorra uma nova seca. “Os clamores vindos do Interior chegam a nós todos os dias”, disse. “Estamos vivendo um momento de expectativa”.
“De agora pra frente, a situação vai piorar porque os criadores não têm mais como alimentar os bovinos”, disse o secretário de Políticas Agrícolas da Federação dos Trabalhadores Rurais (Fetraece), Luís Carlos de Lima. “A situação é grave”. Lima observou que as ações do governo para enfrentamento do quadro de estiagem são importantes, mas considerou insuficientes para atender os produtores rurais.
Agricultor, Aldeci Vieira, ao lado de gado morto, por fome, reza aos céus para que chuva chega ao sertão. Foto: HBGado magro procura comida mesmo em terra seca e pedra. Foto: HB
 

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