quarta-feira, 22 de maio de 2013

No Brasil existem poucos médicos e esses poucos estão concentrados nos grandes centros e em áreas mais ricas


Atrair médicos estrangeiros para o Brasil não pode ser um tabu, pois abordagens, por vezes preconceituosas, deste tema não podem mascarar uma constatação: o Brasil precisa de mais médicos, com qualidade e mais perto da população. Temos 1,8 médico para cada mil brasileiros, índice abaixo de países desenvolvidos, como Reino Unido (2,7), Portugal (4) e Espanha (4), de outros latino-americanos como Argentina (3,2) e México (2).
Se do ponto de vista nacional a escassez destes profissionais já é latente, os desníveis regionais tornam o quadro ainda mais dramático: 22 estados têm média inferior à nacional, como Maranhão (0,58), Amapá (0,76) e Pará (0,77). Mesmo em São Paulo, apenas cinco regiões do Estado estão acima do índice nacional, deixando o Estado com 2,49 médicos por mil habitantes.
Deste modo, não surpreende que quase 60% da população, segundo o Ipea, apontem a falta de médicos como maior problema do SUS. A população, assim como os gestores, sabe que não se faz saúde sem médico.
De 2003 a 2011, surgiram 147 mil vagas de primeiro emprego formal para médicos, mas só 93 mil se formaram. Além deste déficit, os investimentos do Ministério da Saúde em novos hospitais, UPAs e unidades básicas demandarão a contratação de mais 26 mil médicos até 2014.
Nas áreas mais carentes, seja nas comunidades ribeirinhas da Amazônia, seja na periferia da Grande São Paulo, a dificuldade de pôr médicos à disposição da população é crônica: em alguns casos, salários acima dos pagos aos ministros do STF e planos de carreira regionais não bastam.
Foi este nó crítico que levou prefeitos de todo o País a pressionarem o governo federal por medidas para levar mais médicos para perto da população. Para enfrentar esta realidade, os ministérios da Saúde e da Educação estão analisando modelos exitosos adotados em outros países com dificuldades semelhantes.
Em primeiro lugar, estamos trabalhando para estimular os jovens brasileiros que abraçam a missão de salvar vidas como profissão, com ações como o Programa de Valorização da Atenção Básica (Provab), que oferece bolsa de R$ 8 mil mensais e bônus de 10% nas provas de residência a quem atua em áreas carentes, e a expansão das vagas em cursos de medicina e de residência para formar especialistas. Mas oito anos de formação é tempo demais para quem sofre à espera de atendimento.
A experiência internacional tem apontado para duas estratégias complementares entre si: uma em que o médico se submete a exame de validação do diploma e obtém o direito de exercer a medicina em qualquer região; e outra específica para as zonas mais carentes, em que se concede autorização especial para atuação restrita àquela área, na atenção básica, por um período fixo. Adotadas em países desenvolvidos, estas ações representaram decisivo ganho da capacidade de atendimento. Na Inglaterra, por exemplo, quase 40% dos médicos em atuação se graduaram em outros países – índice que é de 25% nos Estados Unidos, de 22% no Canadá e de 17% na Austrália -, enquanto, no Brasil, apenas 1% dos profissionais se formou no exterior.
O debate tem sido conduzido, dentro do governo federal e com a sociedade, com responsabilidade. Ainda não há uma proposta definida, mas alguns pontos já foram descartados: não haverá validação automática de diploma; não admitiremos profissionais vindos de países com menos médicos que o Brasil; e só atrairemos profissionais formados em instituições de ensino autorizadas e reconhecidas em seus países de origem. Com isso, atrair profissionais qualificados será mais uma das medidas para levar mais médicos para onde os brasileiros mais precisam.
Por Alexandre Padilha, Ministro da Saúde    Francisco Castro

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