A vida é curta e nós a tornamos ainda mais curta quando desperdiçamos tempo

Por Rosangela Souza, Especialista em Gestão Empresarial e Docência de Nível Superior.

Isaac Newton dizia que“se eu já realizei alguma descoberta maravilhosa, isso se deve mais à atenção e disciplina do que a qualquer outro talento.”

Em três décadas de vida corporativa, 22 anos como empresária, já vi profissionais talentosos não serem descobertos (ou valorizados) simplesmente porque se deixaram dominar por seus ladrões de tempo.   Há muitos livros e palestras sobre o tema:  procrastinação,  objetivos não atingidos, pessoas e dias pouco produtivos.

Mas minha reflexão hoje é sobre nossa personalidade, formada por nossos pensamentos, sentimentos e hábitos diários (ou o que não pensamos,  não sentimos e não fazemos).  O quanto o que somos pode atrapalhar o que queremos da vida!

Christian Barbosa, autor do livro “A Tríade do Tempo”,  mostra a importância de pensarmos e escrevermos nossos sonhos,  todos eles:  como queremos ser, o que queremos conquistar, o que queremos aprender, quais pessoas são importantes para nós e por isso devemos cuidar, quando, onde e fazendo o quê nos sentimos felizes.  É um excelente exercício para que a vida tenha mais sentido.    Mas  não vale escrever tudo e dizer: “minha vida seria linda se eu conseguisse cuidar de tudo isso, mas não dá tempo de realizar quase nada desta lista.” Se você é dono do seu tempo, e se tempo é escolha, então você provavelmente está escolhendo fazer coisas que estão desalinhadas com o que mais importa para você.  Em outras palavras, não está usando tempo demais para coisas irrelevantes, quando deveria usá-lo com tudo o que vai levar você a algum lugar e também para tudo o que faz você feliz?

Um dia podemos discorrer mais sobre as escolhas diárias.  Mas hoje quero que pense comigo sobre aqueles hábitos que se cristalizaram e já definem quem você é.   Todos temos alguns.  Se tomarmos consciência disso e diminuirmos em pelo menos 20% este exagero que o hábito nos provoca,  já teremos tempo para dar um passo em direção a cada item da nossa lista “O que Importa”.

Por exemplo, quem gosta de novela e séries tende a assistir mais de uma por dia. Não há nada de errado nas escolhas que fazemos, mas lembre-se de que toda escolha implica uma renúncia. Se você diz não ter tempo para exercícios físicos ou para namorar sua esposa/marido, é porque ESCOLHEU exagerar em algo que gosta. Que tal dividir melhor seu tempo e – sem perder o prazer de assistir algo que gosta –  escolher uma delas? Sobrou uma hora do seu dia, e você continua fazendo algo que dá prazer.  Acho que a dica vale para as três horas de academia (para quem tem este vício), as duas de Facebook etc.  Se diminuir um pouquinho, dá para colocar um novo hábito no dia, eliminado algo que você quer fazer mas nunca tem tempo. Agora tem.

No trabalho, vejo claramente alguns hábitos, que viram perfis, que encobrem talentos, adiam a realização de sonhos e deixam aquelas sensações listadas no início deste artigo . Victor Hugo disse que  “a vida é curta e nós a tornamos ainda mais curta quando desperdiçamos tempo.”

Os super perfeccionistas – sabe aquele cara que faz, confere, pede para alguém dar uma olhadinha, confere de novo e só então  envia seu email/relatório ou o que quer que seja? Este é osuper perfeccionista.  Um profissional precisa distinguir tarefas que requerem conferência detalhada das tarefas que não precisam tomar tanto tempo assim.  Uma vez tive de demitir um colaborador que era excelente, mas tão detalhista que não conseguia dar conta do trabalho. Precisava cuidar de 90 e cuidava (mas muito muito bem!) de 10.  Eu teria então de ter 9 pessoas como ele para dar conta? Impossível.   É claro que há profissões e funções que requerem perfeição 24/7.  O objetivo aqui não é fazer mal feito, mas o super perfeccionista precisa entender que não dá para gastar duas horas naquilo que normalmente se gasta 30 minutos para terminar.   Para deixar de ser “super”, que é a proposta deste artigo, coloque como meta pessoal diária ganharagilidade, mantendo uma qualidade adequada ao desafio daquela tarefa.  Lição:  o exagero na busca pela perfeição pode arruinar sua carreira em uma empresa que precisa de ótimos e ágeis colaboradores.

Os super antenados – ele não vive sem consultar suas redes sociais e/ou sites de notícias, o problema é que é a cada dez minutos. E não adianta proibir acesso na empresa, pois ele tem o celular para isso. Muito se fala sobre o quanto toda esta conexão ajuda pessoas, carreiras e empresas. Mas também já há estudos do quanto esta dispersão pode prejudicar.  O instituto Nucleus Research fez uma pesquisa sobre o Facebook e concluiu que, dos que afirmam que usam a rede no trabalho, 87% não puderam identificar uma razão profissional clara para o acesso ao site. Se não é para agregar no trabalho, é lazer. Lazer em demasia no horário do trabalho não deixa o colaborador nem a empresa competitivos. O concorrente está trabalhando enquanto você se diverte.  Lição: o exagero na dispersão pode arruinar sua carreira em uma empresa que tem foco e é competitiva, a não ser que ela mostre a você como utilizar as redes para potencializar negócios.

Os super questionadores (ou reclamões?) –  talvez eles tenham recebido muito estímulo positivo de seus pais e professores por serem questionadores.  Aí, viciaram em perguntar o porquê de tudo, às vezes até em criticar as pessoas, procedimentos e a empresa em demasia. Sabe aquele aluno que, ao invés de estudar, fica reclamando que o professor não é bom, que o livro é uma droga, que a escola exige demais, que os amigos atrapalham etc?  Ele simplesmente não realiza o que é proposto, perde tempo – e são raros os que chegam a algum lugar.  Você se tornou este tipo de profissional?  Questione e critique, mas não se deixe dominar por este hábito, pois ele vai consumir seu tempo e sua motivação – e dos que estão à sua volta.  Treine o “olhar bom” todos os dias, pense e fale sobre motivos para elogiar o que existe em sua empresa.  Você tem de realizar o que foi atribuído a você e, aos poucos, ser agente de mudanças.  A lição aqui é não se especializar (o exagero de novo) em analisar processos e pessoas, sempre com tom de crítica.  Você não parece mais inteligente por ter esta habilidade. Será valorizado se realizar seu trabalho brilhantemente e ajudar seus colegas a fazer o mesmo.

Os super baixa autoestima –  quando erra, este colaborador fica horas (ou dias) remoendo o erro.  Ou perde tempo criando formas de esconder,  vira mestre em dar justificativas, ou, pior, sabe como ninguém colocar a culpa nos outros (ou na empresa). Seria muito mais fácil e rápido assumir, resolver, e aprender com o erro.  No mínimo, ganha-se tempo para contribuir com a empresa em outra coisa, compensando o erro.  Aqui, a lição é:  “Não seja displicente com seus erros, pois só eles podem ensinar alguma coisa a você. Mas não se torture. Aprenda (mesmo) e bola pra frente.

Os super desorganizados – o excesso de informação se tornou o grande desafio dotrabalhador do conhecimento, como já preconizava Peter Drucker. Com tantas mensagens, notícias, relatórios e ideias chegando, tem de organizar tudo isso. A gente não imagina o quanto perde tempo no dia procurando aquele arquivo, que está naquela pasta. Ou aquele papel, ou a informação que você viu não sabe onde.  E perder 10 minutos todos os dias procurandoaquela blusa em um armário desarrumado?  Muito mais fácil investir uma hora na arrumação,manter arrumado e usar este tempo para coisas mais relevantes. Não precisa se tornar um super chatinho organizado, mas a lição é:  perder tempo para encontrar coisas pode minar o tempo que você teria para curtir estas coisas!

Os que acham que têm uma super memória: um grande tomador de tempo é ter de ficar lembrando as pessoas de fazerem aquilo que já havia sido combinado. E quem se esqueceu, tem de parar algo urgente, para fazer algo mais urgente ainda – afinal, estava combinado. Todos nós temos de ter uma  lista de tarefas – softwares, apps, caderno (não gosto dos papeizinhos), não importa. Anote tudo o que tem para fazer, com prazos.   Ah, consulte a lista.  Gosto do modelo do Christian:  COISAS URGENTES (fazer hoje, ex: responder emails) , COISAS IMPORTANTES (não é para hoje, mas tem de ir fazendo, ex: preparar o relatório para a reunião da próxima semana) E CIRCUNSTANCIAIS (não tem lista, são as interrupções e incêndios do dia).  Todo dia, traga um pouco das importantes para a lista das urgentes e re-a-li-za.  As importantes  você tem de realizar um pouco por dia, senão você terá de parar tudo para realizá-las (geralmente na véspera do prazo).

Dizem que a vida é curta, e que por isso não devemos fazer dela um rascunho. Pode não dar tempo de passar a limpo.

Talvez você não tenha aprendido muita coisa nova com este artigo, mas o que quero é que incorpore novos hábitos: sonhar, listar tudo o que importa, ler a lista diariamente,  adequar seus hábitos ao que está na sua lista, escolhendo conscientemente o que fazer com cada hora vivida.  E,  principalmente, que se reconheça um pouco nestes perfis, diminuindo apenas o exagero e usando este tempo para o que mais importa:  realizar as coisas que você escolheu como importantes na sua vida.