terça-feira, 6 de agosto de 2013

O que importa são as ações e não as promessas dos políticos

A insatisfação pela má qualidade dos serviços públicos essenciais, demonstrada nos movimentos que tomaram recentemente as ruas, em praticamente todas as capitais estaduais e nos grandes e médios municípios do País, não deveria ter produzido tanta surpresa nos gabinetes do Executivo ou Legislativo.
Isso porque não há representante desses poderes que desconheça que a piora dos problemas de transportes e da saúde – principalmente – é vista pela população como consequência da má gestão e não por falta de recursos. Até porque aumentou muito, nos anos recentes, o interesse das pessoas quanto ao destino dos impostos que a administração arrecada, com eficiência crescente, mas sem uma destinação transparente.
 É lamentável que o efeito “surpresa” tenha levado a uma reação esquizofrênica hiperativa daqueles poderes que tentaram responder com ilusionismos, aprovando de forma apressada e inconsequente a concessão de subsídios e de gastos, com promessas de imaginárias receitas futuras que, todos sabem, não caberão nos orçamentos.
Promessas que provavelmente nunca poderão ser honradas, a não ser à custa da maior destruição fiscal que levará – no final – ou a aumentar a taxa da inflação ou a um maior déficit em conta corrente (enquanto os credores tiverem paciência em tolerá-lo), ou, o que é ainda pior, a alguma forma de restrição à liberdade individual com a qual já namoram alguns de nossos vizinhos na América Latina.
 O movimento das ruas é uma daquelas circunstâncias que exigem maior reflexão sobre a natureza e o futuro da organização social em que vivemos. No mundo todo, as sociedades estão envolvidas numa profunda revolução, apoiada em novas tecnologias e no aumento dramático da transmissão e acumulação de informações. Ela vai produzir ainda maior redução do trabalho material e imenso aumento da liberdade individual.
No Brasil, as implicações desse novo passo civilizador precisam ser antecipadas por um dramático aumento da qualidade de nossa educação, para elevar o espírito crítico dos cidadãos eleitores.
 Temos de aproveitar a circunstância que a “voz” que ocupou as nossas ruas está lembrando aos governos, nas suas três dimensões – União, Estados e Municípios – as prioridades que eles esqueceram. No processo civilizatório que vivemos, em velocidade e profundidade sem precedentes, a insatisfação aumenta com enorme rapidez diante da péssima qualidade dos serviços de transportes urbanos, e se relaciona também com o atendimento precário à saúde e com o ensino público de baixa qualidade.
O que os movimentos pacíficos nas ruas estão cobrando é que os governos invistam mais ativamente em sistemas de transporte e nas áreas de saúde e educação básica, para oferecer um mínimo de conforto e segurança à população que paga os impostos.
Em síntese, exigem o que é essencial para salvar a economia e, principalmente, para garantir a continuidade do processo civilizatório e a própria democracia no País.
Por Antônio Delfim Netto 

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