terça-feira, 7 de maio de 2013

O pedestre é negligenciado e desrespeitado pelos motoristas e pelo poder público


Por Leonardo Kauer, Diretor-presidente do Detran/RS
Pressionados pelos conflitos da condição humana, buscamos fora de nós soluções que nos tirem dos ombros o peso de viver, complemento inerente do prazer de viver. Em meados do século passado, por exemplo, popularizou-se uma solução que já se esboçava nas décadas anteriores: a Ciência _ assim mesmo, com letra maiúscula _ resolveria todos os nossos problemas. O futuro se apresentava pleno de promessas, que incluíam o fim da doença, da miséria, da fome, da guerra…
Este “espírito do tempo” animou importantes evoluções, não apenas na ciência pura, mas também na técnica e na tecnologia. Seus reflexos ainda perduram, independentemente das expectativas frustradas. Em grande medida, o desenvolvimento científico e tecnológico se deu apartado do desenvolvimento humano, tornando o que inicialmente se apresentava como resolução de conflitos em fonte de outros tantos.
A utilização massiva do automóvel ampliou possibilidades, mas também gerou estresse, doenças, sequelas e mortes. A sofisticação atual da máquina muitas vezes não condiz com as necessidades mais profundas daquele ser humano singular que se encontra no seu comando.
Não se trata, aqui, de fazer apologia do passado, mas, sim, de rever usos cujo exagero, manifestamente, está sendo nefasto. Dispor de um automóvel para uso próprio é bom, mas quando a poluição e os custos individuais e sociais que gera superam as vantagens, quando seu uso beira a caricatura, como quando nos leva por pequena distância até uma academia de ginástica, onde pagamos para caminhar ou correr em uma esteira, é hora de revermos nosso estilo de vida.
A Semana Mundial de Segurança no Trânsito, instituída pela Organização Mundial da Saúde, neste ano, muito apropriadamente, está focada no pedestre. Considerado um modal de deslocamento, tal como o condutor de automóvel ou o motociclista, o pedestre é negligenciado pela sociedade e pelo poder público. Este último, muitas vezes motivado pelas próprias comunidades, arrasa espaços adequados ao caminhar seguro e agradável para substituí-los por vias que, mais cedo ou mais tarde, estarão tão congestionadas de veículos quanto hoje. À sociedade, por meio de suas organizações e indivíduos, cabe refletir em sua própria qualidade de vida e fazer opções mais saudáveis e racionais, o quanto antes. Nenhuma máquina fará isso por ela.

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