quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Amém, São Marcos!


QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2012

Amém, São Marcos!

Foto: Reginaldo Castro / Agência O Dia
A noite de 11 de dezembro de 2012 jamais será apagada da memória dos palmeirenses – e de muitos brasileiros amantes do futebol. Marcos Roberto Silveira Reis, o “São Marcos de Palestra Itália”, praticou os seus últimos milagres com a camisa alviverde e se despediu, oficialmente, e, para sempre, do futebol.

Cerca de 40 mil pessoas compareceram ao estádio do Pacaembu para acompanhar a festa. No confronto, o Palmeiras de 1999 contra a Seleção Brasileira de 2002, duas equipes recheadas por verdadeiras estrelas do mundo da bola. Entre os craques, Ronaldo, Rivaldo, Cafu, Roberto Carlos, Alex, Evair, Edmundo, Djalminha, Antônio Carlos, Denílson, Edmílson, Zé Roberto, Paulo Nunes, Júnior, César Sampaio, César Maluco, Leivinha, Luiz Felipe Scolari e o “Divino” Ademir da Guia.

Entretanto, ninguém brilhou mais que Marcos. Envolvido pela emoção da despedida, ele precisou conter as lágrimas em diversos momentos. No início, fez questão de entrar em campo com o filho recém-nascido, Marcos Vinícius, no colo, e ao lado dos mais grandinhos Lucca e Anna Julia. Antes da bola rolar, o ex-goleiro ganhou diversos presentes, como uma réplica da defesa do pênalti de Marcelinho Carioca, na Libertadores de 2000. Por fim, cantou com o coração o hino do Palmeiras.

Com a bola rolando, o Santo precisou suar a camisa para defender seguidos chutes de Rivaldo e Ronaldo, que fizeram questão de não aliviar para o já aposentado goleiro. A cada defesa, uma comemoração da torcida.

Mas os palestrinos foram ao ápice, mesmo, aos 17 minutos do primeiro tempo. Edmundo foi derrubado por Belletti na área. Pênalti para o Palmeiras de 1999. Quem iria bater? Na véspera, Marcos disse no programa Arena Sportv que se armassem um pênalti para ele bater, cobraria para fora. Mas o clamor da torcida e jogadores, que, liderados pelo capitão Cafu, cruzaram o gramado e levaram o camisa 12 à força até o outro lado do campo, fizeram o Santo mudar de ideia e encarar o desafio de marcar o seu segundo gol de pênalti com a camisa do Palmeiras. Com o apito da árbitra Ana Paula de Oliveira, Marcos tomou distância, bateu firme no meio do gol (Dida caiu no canto direito) e abriu o placar para delírio dos outros 21 jogadores em campo e mais 40 mil espectadores nas arquibancadas.

- Eu não queria bater o pênalti, não. Falei para o Evair que a torcida tinha saudade de vê-lo em ação. Mas ele falou que a festa era minha e foram todos lá me buscar, ai ficaria feio eu não ir lá bater. O duro é que no caminho até a área foram me botando pilha. Eu comecei a ficar nervoso. E tinha o Dida, meu parceiro de longa data, desde seleção de júnior. Minha vontade era fazer gol de escanteio, de cabeça. Mas não teve jeito. Bati então aquela bola de segurança, no meio do gol, porque sei que é difícil goleiro ficar parado. E o Dida se mexeu antes, me ajudou – disse Marcos, na saída do intervalo.

Antes do fim da primeira etapa, o Palmeiras de 1999 chegaria ao segundo tento. Evair fez jogada pela direita, tocou na entrada da área para Alex, que, de primeira, encontrou Edmundo sozinho. O Animal deu um drible desconcertante em Cafu e cruzou rasteiro para Paulo Nunes, que teve apenas o trabalho de empurrar a bola para as redes.

No segundo tempo, as duas equipes retornaram totalmente alteradas. No lado do Palmeiras de 1999, entraram Agnaldo Liz, Rivarola, Rubens Júnior, Oséas, Euller, Adãozinho, Tiago Silva e Tonhão – este último, protagonista de uma entrada forte, logo no começo, em Edílson, eterno desafeto da torcida palmeirense. Do outro lado, entraram Velloso, Luizão e Antônio Carlos.

Com a saída dos jogadores que apresentavam uma melhor forma física, o ritmo do jogo caiu demais. Deu até tempo para Marcos tomar um café ao pé da trave, repetindo a cena do jogo contra o The Strongest, da Bolívia, pela Libertadores de 2000.

Aos 12 minutos, o jogo foi paralisado. Todos os jogadores do Palmeiras tiraram a camisa verde escura e ficaram com o novo modelo, verde claro, idêntico ao que Marcos usava no gol. Aliás, foi ai que ele deixou oficialmente de ser goleiro. O Santo foi realizar seu sonho de ser centroavante por um dia e substituiu Evair no ataque. Em seu lugar, no gol, entrou o grande amigo Sérgio. E que ironia. Logo na primeira bola na área palmeirense, gol da Seleção Brasileira de 2002, em cruzamento de Denílson para Edílson fazer de cabeça. Oito minutos depois, aos 24, o mesmo Edílson bateu, Sérgio deu rebote e Luizão empatou.

No ataque, Marcos fez o que esteve ao seu alcance. Correu muito para evitar que uma bola saísse pela linha de fundo, deu toque de calcanhar, chamou o jogo, mas não teve outra oportunidade de marcar. A torcida ainda teve o privilégio de rever Ademir da Guia novamente em campo com a camisa 10. Cinco minutos foram o bastante para que o “Divino” desse uma pequena mostra do seu refinado toque de bola e arrancasse aplausos e suspiros da apaixonada – e carente – torcida palmeirense.

Exatamente à meia-noite, quando o cronômetro da partida marcava 25 minutos do segundo tempo, os refletores do estádio se apagaram. O dia 12 de dezembro de 2012 (12/12/12) havia iniciado. Era a hora do Santo parar. No centro do gramado, com microfone em mãos, Marcos discursou para a multidão:

- Queria fazer alguns agradecimentos especiais. Primeiro a Deus, pela carreira que me deu. Ao meu pai, que me ensinou a amar o futebol, e à minha mãe, que me ensinou a amar o Palmeiras. Aos meus irmãos, que foram meus primeiros treinadores, chutando bola em mim no terreirão ao lado de casa. Gostaria de agradecer à minha mulher, que sempre esteve comigo, nos momentos bons e principalmente nos ruins. Aos meus filhos, Lucca, Anna Julia e Marcos Vinicius. Tem muito momento na vida que a gente pensa em desistir, mas lembra dos filhos e resolve seguir em frente. Agradecer aos jogadores, que desmarcaram coisas importantes para estarem aqui. Agradecer a todos os meus treinadores, principalmente o Felipão, que está aqui hoje. Agradecer aos meus ídolos, Velloso e Sérgio, que me ensinaram muito. Agradecer também aos patrocinadores e organizadores da festa. Gostaria também de agradecer a todos os torcedores do Palmeiras. Eu queria falar algo especial para a torcida: quando sai de casa, meu sonho era ter sucesso, claro, mas o mais importante era conquistar o torcedor do meu time de criança, que é o Palmeiras. Eu queria que vocês tivessem orgulho de mim, porque eu estava em campo defendendo vocês. Saio de campo realizado e com sensação de dever cumprido. Pra mim, foi uma honra vestir a camisa da Seleção Brasileira e, principalmente, a da Sociedade Esportiva Palmeiras. Peço que vocês nunca se esqueçam de mim, porque eu nunca vou me esquecer de vocês. Muito obrigado.

E terminava ali uma história de amor entre São Marcos de Palestra Itália e a Sociedade Esportiva Palmeiras. 

Amém.

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