segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O Joio e o Trigo

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Uma das teses mais “senso comum” que compartilho é a falta de maturidade política do brasileiro, e em especial, de nossa classe média. Chega a ser um tanto cômica a postura dos setores médios urbanos do país em relação à nossa vida política: reclama do desvio de dinheiro público, mas sempre que pode, dá uma sonegada. Reclama do trânsito, mas quer mais avenidas para andar com seu carro financiado. Faixas exclusivas para ônibus, nem pensar. Quer mais metrô, mas em geral, para que ele possa andar em paz com seu carro. Aliás, neste quesito, o transporte subterrâneo parece às vezes uma espécie de fetiche: todas as cidades cool têm, logo, a minha tem que ter também.
Mas acho que nenhum fato expõe melhor o “sentimento classe média” do que a patética revolta com a corrupção. Antes de prosseguir, só lembro que se você é – como eu – de classe média e não se encaixa neste post, lembre-se que as exceções existem para confirmar a regra.
Retomando, a revolta seletiva contra a corrupção aponta sempre em duas direções: primeiro, o individualismo típico de um pessoal que ainda não entendeu o que significa a palavra público. Em segundo lugar, temos aquela galera da torcida organizada, que segue achando que uns partidos são santos, enquanto outros não.
O primeiro caso é bastante conhecido. Por inúmeros motivos, que variam da (de)formação cultural até a falta do exercício democrático – a eleição da Dilma marcou um recorde: cinco eleições livres consecutivas no Brasil – as razões que indicam a falta de noção de espaço público e coisa pública passam pela elite grotesca e entreguista que temos, uma classe média que copia indiscriminadamente modos de vidas alheios (leia-se, norte-americano) etc. É a galera que acha que corrupto só são os políticos. Não existem empresários sujos: esses são ou vítimas e corrompem-se por necessidade ou formam uma minoria desprezível. Não entendem que a leniência com a corrupção política é apenas um reflexo da nossa sociedade, que é corrupta por excelência.
Já o segundo grupo é formado por outros dois subgrupos: os inocentes úteis e os cães raivosos. No subgrupo inocentes úteis encontramos aquele povo que acha que os políticos dos partidos que defendem são grandes vítimas de conspirações. Não que elas não existam. Especialmente quando nos referimos ao PT no governo federal , são muitos os casos de denúncias que nunca se comprovaram. E lembro que nos anos 1990 isso também aconteceu com o PSDB. Em menor escala, é verdade. Mas aconteceu. Já os cães raivosos são aqueles que vociferam contra qualquer um que aponte para um problema do partido. Aqui, alerto para a diferença do cão raivoso do cabo eleitoral. O segundo usa artifícios para disputar a eleição. É a propaganda negativa, habitual desde o Império Romano e inevitável em cenários de disputa apertada. O cão raivoso boicota, ameaça, rompe relações. Recusa-se a discutir na certeza de ser o dono da verdade (e não por preguiça ou descrença).
Esta fauna forma a grande platéia do circo político que habitualmente se vê no Brasil. Toda vez que alguma denúncia não interessa a alguns setores econômicos do país, elas somem das páginas dos jornais e sequer dão as caras na imprensa televisiva. Isso acontece em menor medida no governo federal, mas é muito corriqueiro no caso das denúncias à corrupção do governo de São Paulo. E em geral, este rol que descrevi acima, some junto.
Em junho todos esses tipos foram às ruas. Sem uma formação política mínima, muitos manifestantes levaram sua própria timeline do Facebook, cujas demandas estavam ligadas sempre à corrupção. E aqui, o mensalão e os estádios da Copa tiveram um espaço cativo nos corações dos neo-manifestantes. Para boa parte deles, o mal do universo advém de uma conspiração capitaneada pelo PT.
Em suas páginas pessoais nas redes sociais, os ataques ao governo federal eram ininterruptos. Dia sim, dia também, alguma foto dos réus da AP 470 apareciam, com comentários que na melhor das hipóteses, desejavam a morte de todos, antes mesmo do fim do caso.
Porém, como em um passe de mágica, essas pessoas parecem ter sumido das redes sociais. No momento em que o Ministério Público de SP investiga R$ 1,5 bilhão em contratos do metrô paulista, nenhum deles publica foto dos governadores do Estado ou repercute as graves denúncias de corrupção na “locomotiva do Brasil”. Em um caso onde governos de países europeus confirmam o pagamento de pelo menos R$ 40 milhões em propinas aos políticos paulistas, todo o ódio contra a corrupção subitamente é substituído por cachorrinhos fofos, gatinhos e bebês. Não há mais indignação, só silêncio.
E eis que o movimento mais pop da atualidade resolve chamar um ato contra a corrupção e cartel no metrô de São Paulo. Totalmente dentro do escopo de atuação do MPL, a manifestação joga luz sobre o fato de que vários contratos com o governo paulista foram superfaturados em 30%. Na próxima quarta-feira, o Movimento Passe Livre irá às ruas cumprir seu papel de movimento social: enfrentou o petista Haddad e agora enfrenta o tucano Alckmin.
Sem bancar o cão raivoso, inocente útil ou o egoísta da Paulista, o MPL chama a todos para brigar por um transporte de qualidade e que faça jus ao conceito de público. Por isso, a partir de agora separaremos o joio do trigo: aqueles querem mudar o país daqueles que querem mudar só o partido à frente do governo federal.     http://www.rodrigosalgado.com/o-joio-e-o-trigo/

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