Acusado de ser cúmplice do assassino do trabalhador rural Welbert Cabral Costa se entrega à polícia; caso é arquivado sem que algum mandante tenha sido apontado
Por Guilherme Zocchio
Maciel Nascimento, um dos suspeitos de ter participado do homicídio do trabalhador rural Welbert Cabral Costa, foi detido na noite desta quarta-feira, 11, quando se entregou, acompanhado de seu advogado, à delegacia da Polícia Civil de São Félix do Xingu, no sul do Pará (PA). Ele é acusado de ser cúmplice do autor do disparo, Divo Ferreira, e ter auxiliado a esconder o corpo do homem assassinado.
Tanto os dois acusados quanto a vítima eram funcionários da Fazenda Vale do Triunfo, área onde teria ocorrido o crime e que pertence à Agropecuária Santa Bárbara, empresa ligada ao Grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas. Ambos tinham contra si mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça.
Responsável por conduzir as investigações, o delegado Lenildo Mendes dos Santos afirma que a prisão do último envolvido encerra o inquérito, já que não teria sido possível encontrar um mandante para o crime. “A autoria e a materialidade do caso já estão provadas. Em um primeiro momento, não foi possível comprovar a existência de um mandante.”
Durante a apuração, os agentes policiais levantaram a hipótese de que o assassinato de Welbert, ex-tratorista da Fazenda Vale do Triunfo, poderia ter contado com a participação de funcionários de alto escalão da Agropecuária Santa Bárbara.
Em posicionamento sobre o caso, a companhia negou, por mais de uma vez, ter envolvimento e disse estar colaborando com as autoridades. “A empresa não tem qualquer ligação com o caso e tem interesse de que os fatos sejam esclarecidos na maior brevidade possível”, declarou emnota na época da prisão de Divo Ferreira.
O delegado Lenildo, no entanto, acredita que no decorrer das oitivas à Justiça algum mandante do crime ainda pode ser denunciado pelos dois acusados. Nesse caso, ele explica à reportagem, o Ministério Público do Estado do Pará (MP-PA) poderia requisitar a abertura de um novo inquérito à Polícia Civil, com o objetivo de localizar outros envolvidos.
Entenda o caso
Welbert Cabral Costa estava desaparecido desde o dia 24 de julho, quando foi assassinado depois de reclamar direitos trabalhistas em frente à Fazenda Vale do Triunfo, onde trabalhara. Afastado do serviço devido a um acidente, ele não teria recebido um valor de R$ 18 mil referente a indenizações trabalhistas, segundo o depoimento de familiares da vítima à polícia.
Welbert Cabral Costa estava desaparecido desde o dia 24 de julho, quando foi assassinado depois de reclamar direitos trabalhistas em frente à Fazenda Vale do Triunfo, onde trabalhara. Afastado do serviço devido a um acidente, ele não teria recebido um valor de R$ 18 mil referente a indenizações trabalhistas, segundo o depoimento de familiares da vítima à polícia.
O ex-tratorista teria ido à propriedade da Agropecuária Santa Bárbara para cobrar esse dinheiro. Após discutir na entrada da propriedade, Divo Ferreira teria aparecido na companhia de Maciel Nascimento, executado o trabalhador com um tiro na nuca e, depois, tentado esconder o cadáver em meio ao matagal da região.
De acordo com a Agropecuária Santa Bárbara, Welbert estaria com contrato suspenso e recebendo a remuneração pelo INSS, e já teria tido integralmente quitada qualquer pendência financeira.
A própria família da vítima iniciou as primeiras investigações sobre o assassinato, ao notar a falta do trabalhador, que não havia voltado pra casa, e abriu um boletim de ocorrência. Após a denúncia do crime por parte de organizações e movimentos sociais da região, as autoridades policiais intensificaram a apuração do caso.
Há cerca de três semanas, em 22 de agosto, a Equipe Caveira, da Polícia Civil, encontrou os restos mortais da vítima enquanto seguia atrás dos responsáveis. O corpo de Welbert foi reconhecido pelo irmão. Por estar amarrado, levantou-se a suspeita de que o cadáver teria sido deslocado após o caso ter ganho repercussão.
Agropecuária Santa Bárbara
Fundada em 2005, a Agropecuária Santa Bárbara é uma das maiores do ramo da pecuária de corte no Brasil. Com relevante participação acionária do Grupo Opportunity, ligado ao banqueiro Daniel Dantas, possui, de acordo com suas próprias informações, mais de meio milhão de cabeças de gado, distribuídas entre seus 500 mil hectares de terra, uma área equivalente a três vezes o município de São Paulo.
Fundada em 2005, a Agropecuária Santa Bárbara é uma das maiores do ramo da pecuária de corte no Brasil. Com relevante participação acionária do Grupo Opportunity, ligado ao banqueiro Daniel Dantas, possui, de acordo com suas próprias informações, mais de meio milhão de cabeças de gado, distribuídas entre seus 500 mil hectares de terra, uma área equivalente a três vezes o município de São Paulo.
Em 2009, o Ministério Público Federal processou a empresa pelo desmatamento ilegal de 51 mil hectares, cobrando R$ 863,4 milhões (valor corrigido pelo IPCA) em indenizações. Três anos depois, uma operação libertou cinco trabalhadores mantidos em condições análogas às de escravos em uma fazenda do grupo.
No mesmo ano, famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que estavam acampadas em frente a uma fazenda da Santa Bárbara em Eldorado dos Carajás (PA) protestando contra a grilagem de terras, o trabalho escravo e o uso excessivo de agrotóxicos tiveram de deixar o local depois que seguranças da área atiraram contra os manifestantes.
O Grupo Opportunity e Daniel Dantas, por sua vez, aparecem na Operação Satiagraha, deflagrada no começo de 2004 para investigar um grande esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e desvio de verbas públicas.
*com a colaboração de Stefano Wrobleski
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