quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Grampos' da PF revelam: José Sarney articulou para 'melar' julgamento das penas do mensalão


QUINTA-FEIRA, 20 DE DEZEMBRO DE 2012


A revista Época desta semana revela, pela primeira vez, um elo entre a quadrilha que fraudava pareceres técnicos, desbaratada em novembro pela Polícia Federal na operação “Porto Seguro”, e o “caso mensalão”. A revista teve acesso a um relatório da PF, baseado em escutas autorizadas pela Justiça, sobre 18 autoridades com foro privilegiado que conversavam com integrantes do grupo criminoso comandado pelos irmãos Paulo e Rubens Vieira e pela chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha – que se apresentava como namorada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a revista Época, no documento, de 98 páginas, há um capítulo para cada uma das autoridades. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), é uma delas.
De acordo com a publicação, o relatório da PF afirma que no dia 2 de novembro, quando os ministros terminavam de definir as penas dos réus já condenados do mensalão, o empresário e ex-senador Gilberto Miranda, Sarney e o jurista Saulo Ramos – os três amigos de longa data – jantaram na casa do primeiro. O objetivo do encontro seria bolar soluções jurídicas para atenuar ou adiar as penas dos mensaleiros amigos dos quadrilheiros pilhados na “Porto Seguro”. Um diálogo grampeado no dia 5 de novembro, entre Gilberto Miranda e o mensaleiro condenado Valdemar Costa Neto não deixa dúvidas de que havia uma articulação para ‘melar’ a definição das penas.
No diálogo, Gilberto Miranda insiste para que o deputado federal Costa Neto tente contratar Saulo Ramos, revelando o que o jurista teria dito, na reunião da qual também participou José Sarney: “Ele [Saulo Ramos] falou: ‘Gilberto, se eu rever, se eu der a redação final, eu seguro isso aí três anos”.
Segundo a PF, Gilberto Miranda patrocinava as propinas do grupo criminoso pego na “Porto Seguro” e usava a influência que detinha junto aos senadores do PMDB para fazer negócios no governo federal.
Sarney nega – A revista Época informou que, por meio de sua assessoria, o senador José Sarney afirmou que não atuou para que o amigo Saulo Ramos entrasse na defesa de Costa Neto. “O jantar foi um rotineiro encontro social entre amigos. Saulo Ramos e Gilberto Miranda são amigos de muitos anos do presidente Sarney. Vez por outra jantam juntos. O presidente Sarney não faz gestões para que Saulo Ramos atue em defesa de ninguém”, afirmou a assessoria.
Há integrantes das cúpulas dos Três Poderes no relatório da PF, conforme a revista Época. “Há ministros do governo Dilma, como Luís Inácio Adams, da Advocacia-Geral da União; (...) ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do STF, como Dias Toffoli (...) Há seis deputados federais, entre eles Valdemar Costa Neto, além do presidente do Senado, José Sarney. Há, finalmente, prefeitos, como Gilberto Kassab, de São Paulo – ele pede a Gilberto Miranda, segundo a PF, ajuda para uma indicação ao STJ. O relatório traz, em suma, um catálogo do poder”, descreve a publicação.
Os delegados da PF enviaram o relatório, na quarta-feira passada, ao presidente do STF, Joaquim Barbosa, e ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Caberá aos dois avaliar se há elementos suficientes para iniciar uma investigação.
A matéria completa sobre o caso pode ser acessada no portal da revista Época: revistaepoca.globo.com

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