terça-feira, 4 de dezembro de 2012

CPI na CBF


Romário cita suposta manipulação de convocações da seleção e “caso Del Nero” em pedido de CPI 
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 O requerimento para a criação de uma CPI sobre as atividades da CBF, protocolado nesta terça por Romário na Câmara, cita uma suposta manipulação na convocação de jogadores da seleção. O intuito seria valorizar jogadores ligados a empresários.
O documento também registra a investigação da Polícia Federal envolvendo Marco Polo Del Nero, presidente da Federação Paulista e vice da CBF. A PF investiga a venda de dados sigilosos por parte de policiais para advogados.
Romário relacionou em primeiro lugar o contrato da CBF com a TAM. O pagamento era feito para empresas de Wagner Abrahão, amigo de Ricardo Teixeira. Ele pede que outros acordos comerciais sejam investigados. O deputado menciona ainda uma suspeita enriquecimento ilícito de funcionários da confederação.
Para justificar o pedido referente à uma entidade privada, o ex-jogador argumenta que o futebol é patrimônio cultural do país . Ressalta também o fato de José Maria Marin, presidente da CBF, presidir também o Comitê Organizador Local da Copa, lembrando as isenções fiscais dadas ao governo para os envolvidos no Mundial. Romário precisa de 171 assinaturas de deputados para viabilizar a CPI.
Procurada pelo blog, a diretoria de comunicação da CBF disse que só terá um pronunciamento do presidente da entidade sobre o assunto no final da tarde.
Confira o requerimento na íntegra.
Senhor Presidente,
Requeremos a Vossa Excelência, nos termos do § 3º do art. 58 da
Constituição Federal, como também dos artigos 35 a 37 do Regimento Interno da
Câmara dos Deputados, a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito
composta por 20 membros e igual número de suplentes, garantida a
proporcionalidade partidária, com a finalidade de, no prazo de 120 (cento e vinte
dias), investigar irregularidades na exploração e administração do futebol nacional
exercida pela Confederação Brasileira de Futebol – CBF.
Notícias recentes, divulgadas nos meios de comunicação, dão conta de
que há indícios de que a CBF tem sido utilizada como instrumento para beneficiar
seus gestores e terceiros a eles relacionados, mediante recebimento de valores
de patrocínios que deveriam ser aplicados na realização de suas finalidades.
Segundo reportagem do jornal Folha de São Paulo (28/10/ 2012):
“Quatro empresas de propriedade de um amigo do ex-presidente da CBF,
Ricardo Teixeira, foram apontadas pela confederação como beneficiárias do
contrato de patrocínio da seleção com a TAM.
Pelo acordo, que terá validade até o ano da Copa do Mundo de 2014, a CBF
indicou as empresas do Grupo Águia, de propriedade do empresário Wagner
Abraão, para receber as cotas mensais.
O empresário já foi investigado por uma CPI e é um dos mais próximos
amigos do ex-presidente da CBF. Teixeira, que deixou o cargo em março,
comandava a entidade na ocasião da assinatura do contrato.
De acordo com um dos artigos do contrato firmado entre as duas instituições,
a CBF informa à TAM que o pagamento mensal poderá ser feito na conta de
uma das quatro empresas do grupo de Abraão e as lista.
São elas: a Pallas Operadora Turística Ltda, a Irontur Operadora Turística
Ltda, a OneTravel Turismo Ltda. E a TopService Turismo. Pelo contrato, a
TAM paga U$$ 7 milhões por ano à confederação para patrocinar a seleção
brasileira de futebol. As cotas são pagas mensalmente pela companhia
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aérea. O documento firmado entre TAM e a CBF tem ainda uma cláusula de
confidencialidade para manter o artigo em sigilo.
Na cláusula, a ‘CBF obriga-se a exigir das empresas (…) o compromisso
de confidencialidade sobre as condições do contrato.’ O acordo atual tem
validade até o final de 2014, mas já prevê a sua prorrogação até 31 de
dezembro de 2018. Neste período, a TAM vai transportar a seleção em dois
Mundiais. Além da copa brasileira, a empresa aérea cuidará dos voos dos
jogadores durante o mundial da Rússia. Na copa da África do Sul, a TAM já
havia levado o time comandado por Dunga.”
Apesar de a empresa aérea ter anunciado a rescisão do contrato de
patrocínio após a repercussão negativa na imprensa, a investigação se justifica
para se identificar o motivo pelo qual uma cláusula sigilosa do documento
obrigava a TAM a depositar os recursos na conta do Grupo Águia, de propriedade
de um amigo do Sr. Ricardo Teixeira. E, por consequência, deve-se investigar os
demais contratos de patrocínio da CBF, com a finalidade de identificar possíveis
práticas semelhantes.
Outras notícias indicam que o vice-presidente da CBF, Marco Polo Del
Nero, foi envolvido em operação da Polícia Federal destinada a para deflagrar
organizações criminosas suspeitas de vender informações sigilosas e praticar
crimes contra o sistema financeiro:
“Marco Polo Del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol e vice da
CBF, está envolvido em uma ação da Polícia Federal que busca desarticular
duas organizações criminosas. Ainda não se sabe o que o órgão investiga
sobre o dirigente, mas a Operação Durkheim apura a venda de informações
sigilosas e crimes contra o sistema financeiro nacional.
A PF prendeu 33 pessoas e expediu outros 34 mandados de condução
coercitiva (quando a pessoa é levada para prestar depoimento e depois
liberada), caso de Del Nero. O dirigente foi à superintendência do órgão em
São Paulo, prestou depoimento por cerca de 20 minutos e foi liberado. Del
Nero se disse tranquilo após prestar esclarecimentos.
Além disso, foram cumpridos 87 mandados de busca e apreensão nos
estados de São Paulo, Goiás, Distrito Federal, Pará, Pernambuco e Rio de
Janeiro e 67 pessoas serão indiciadas. Segundo informações divulgadas pela
PF, a operação descobriu uma grande rede de espionagem ilegal que usava
informações sigilosas contra políticos, desembargadores, uma emissora de
televisão e um banco. A outra organização tinha como principal atividade a
remessa de dinheiro ao exterior através de câmbio sem autorização do Banco
Central.”1
Disponível em: http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2012/11/26/operacao-da-pf-que-
envolve-del-nero-desarticula-quadrilhas-que-vendia-informacoes-sigilosas.htm (acesso em 26/11/2012).
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Há ainda informações veiculadas pela imprensa brasileira e internacional,
dando conta de práticas nebulosas e indevidas, que seriam as seguintes:
O presidente do Conselho Fiscal da CBF, Antônio Carlos Coelho, que julga
as contas da entidade, tem o plano de saúde pago pela entidade, o que
seria vedado pelo estatuto que regulamenta o funcionamento do órgão.
Segundo reportagem do jornal Folha de São Paulo, a CBF desembolsa R$
3 mil para pagar o plano do conselheiro e de mais quatro familiares. Até
agora, nenhuma conta foi rejeitada pelo Conselho Fiscal;
• Fraude no processo eleitoral de escolha dos dirigentes da CBF para
favorecer grupo do atual presidente, José Maria Marin. O atual vice-
presidente é Marco Polo Del Nero, que preside a Federação Paulista de
Futebol e foi ouvido recentemente pela Polícia Federal sobre suposta
venda de informações sigilosas e crimes contra o sistema financeiro
(conforme já citado);
O presidente da CBF, José Maria Marín, teria aumentado o próprio salário
de R$ 98 mil para R$ 160 mil, além de receber R$ 110 mil de salário do
Comitê Organizador Local da Copa. Marín aproveitou para aumentar
também o salário dos principais integrantes da cúpula da entidade;
• José Maria Marín também teria criado um super-salário para o ex-
presidente da CBF, Ricardo Teixeira – o qual, a título de serviços de
consultoria, estaria recebendo R$ 150 mil, quase o dobro de seus
A164F14
vencimentos como presidente;
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• Recebimento de propinas revelado pela Justiça suíça (caso ISL) – fatos
notórios que levaram à “queda” dos ex-dirigentes Ricardo Teixeira e João
Havelange;
Denúncias de enriquecimento ilícito de funcionários da CBF;
• Irregularidades apontadas pelo Ministério Público do Distrito Federal na
organização doo amistoso disputado entre as seleções de Portugal e do
Brasil, em 2008, na inauguração do estádio Bezerrão, no Distrito Federal;
• Envolvimento da CBF nos preparativos da Copa do Mundo 2014: o
presidente da referida confederação também preside o Comitê Organizador
Local da Copa, e ambas organizações gozam de isenção de tributos,
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contribuições sociais e impostos federais (Lei nº 12.350/2010). O governo
brasileiro abre mão de uma grande quantia de dinheiro, por meio da
renúncia tributária, o que irá beneficiar diretamente a CBF, a Federação
Internacional de Futebol (FIFA) e seu fornecedores e parceiros. Estudos
apontam que mais de 90% dos investimentos para a Copa 2014 são
garantidos pela União;
• Suposta manipulação das convocações com o intuito de valorizar
jogadores, em transações que, somente na gestão de Mano Menezes, já
teriam movimentado cerca de um bilhão de reais.2
Justificativa
Denúncias envolvendo corrupção e um esquema de manutenção no poder
por dirigentes da CBF não podem mais ser ignoradas, sobretudo em face dos
grandes eventos esportivos internacionais que se avizinham, os quais exigem
uma conduta mais efetiva por parte do Estado brasileiro, com o fito de coibir
distorções no Sistema Brasileiro do Desporto.
A Constituição Federal assegura a instituição de Comissões Parlamentares
de Inquérito, no âmbito do Congresso Nacional, com a finalidade de apurar fatos A164F14
de relevante interesse para a vida pública, e ainda, para a ordem constitucional, 8
legal, econômica e social do País.
A esse propósito, cumpre destacar que a organização desportiva do país
recebe incentivos fiscais, integra o patrimônio cultural brasileiro e é considerada
de elevado interesse social, nos termos do que dispõe o art. 4º, § 2º da Lei nº
9.615/1998 (“Lei Pelé”), cabendo, inclusive, ao Ministério Público Federal atuar
em sua defesa, mormente no que refere aos princípios da legalidade, da
moralidade e da publicidade:
“Art. 4º O Sistema Brasileiro do Desporto compreende:
[...]
Disponível em: http://extra.globo.com/esporte/copa-2014/em-dois-anos-jogadores-convocados-por-
mano-menezes-ja-renderam-1-bilhao-em-negociacoes-6032738.html (acesso em 26/11/2012).
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§ 2º A organização desportiva do País, fundada na liberdade de associação,
integra o patrimônio cultural brasileiro e é considerada de elevado
interesse social, inclusive para os fins do disposto nos incisos I e III do art. 5º
da Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993.”
A relevância social dos fatos mencionados encontra respaldo, ademais, no
artigo 84-A da Lei nº 9.615/1998, que estabelece que “todos os jogos das
seleções brasileiras de futebol, em competições oficiais, deverão ser exibidos,
pelo menos, em uma rede nacional de televisão aberta, com transmissão ao vivo,
inclusive para as cidades brasileiras nas quais os mesmos estejam sendo
realizados.”
A existência de disposição legal com vistas a assegurar que toda a
população do país tenha acesso aos jogos da seleção brasileira demonstra a alta
significação nacional que lhe é atribuída – o que a caracteriza como patrimônio
cultural brasileiro.
Pode-se tranquilamente afirmar que que a seleção brasileira de futebol,
carinhosamente apelidada de seleção canarinha, e seus valorizadíssimos atletas,
impulsionam, juntamente com os símbolos nacionais (bandeira, hino, armas e
selo), a mais expressiva manifestação do sentimento patriótico do povo brasileiro.
Esse sentimento não pode ser frustrado, vilipendiado, em decorrência de atos
indevidos de qualquer natureza.
Há tempos a atuação administrativa e comercial da CBF vem sendo alvo
de denúncias que apontam para práticas que em nada se coadunam com os A164F14
princípios que devem reger o Sistema Nacional do Desporto, como sejam a 8
moralidade administrativa e a transparência financeira e administrativa.3
Não se pode descurar, ainda, que o Sistema Brasileiro do Desporto tem
por objetivo, além de garantir a prática desportiva regular, aperfeiçoar-lhe o
padrão de qualidade.
“Art. 2o. O desporto, como direito individual, tem como base os princípios:
[...]
Parágrafo único. A exploração e a gestão do desporto profissional constituem exercício de
atividade econômica sujeitando-se, especificamente, à observância dos princípios:
I – da transparência financeira e administrativa;
II – da moralidade na gestão desportiva;
III – da responsabilidade social de seus dirigentes;
IV – do tratamento diferenciado em relação ao desporto não profissional; e
V – da participação na organização desportiva do País.”
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O art. 6º do Estatuto da Confederação Brasileira de Futebol dispõe que a
CBF não tem objetivos lucrativos, devendo aplicar suas receitas e recursos
financeiros na realização de suas finalidades, bem como na administração, na
divulgação e no fomento do futebol brasileiro.
Entretanto, ao que parece, o modelo de gestão adotado pela CBF tem
atendido mais a interesses pessoais de alguns dirigentes do que àquilo que
dispõe o seu Estatuto. Ou seja, o fomento do futebol estaria sendo tratado de
forma secundária confederação, e, no momento em que o Brasil se prepara para
receber os maiores eventos desta modalidade esportiva, são os indícios de
irregularidades de gestão dessa entidade que vêm ganhando repercussão no
noticiário nacional – e mesmo internacional.
Por fim, não se pode descurar que a Carta Magna, notadamente em seu
art. 217, acolheu o fomento das práticas desportivas como dever do Estado,
cumprindo-lhe assegurar o equilíbrio da organização desportiva como um direito
social coletivo.
Em vista do exposto, solicitamos a Vossa Excelência a criação de
Comissão Parlamentar de Inquérito, com a finalidade de apurar indícios de
irregularidades na gestão dessa entidade, para que sejam tomadas medidas
cabíveis em prol da integridade do Sistema Brasileiro do Desporto.
Sala de Sessões, 27 de novembro de 2012.
Deputado Romário
PSB/RJ
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