Tamanho capital político faz com que Lula raramente seja contestado dentro do PT – o que lhe dá poder quase absoluto na tomada de decisões. No entanto, como qualquer ser humano, Lula também erra e, muitas vezes, se arrepende. Em entrevistas recentes, ele insinuou que um de seus equívocos foi a escolha de Joaquim Barbosa para o Supremo Tribunal Federal.
Como se sabe, Lula pretendia coroar, em seu mandato, avanços na diversidade racial. E foi assim que Barbosa, sem o equilíbrio que se espera dos magistrados, foi escolhido para o Supremo Tribunal Federal. O resultado, para o Partido dos Trabalhadores, foi desastroso. O deputado mais votado nas últimas eleições pela legenda, João Paulo Cunha, está preso, assim como duas das principais lideranças da sigla: os ex-presidentes José Dirceu e José Genoino, ambos, também, ex-parlamentares.
Sem candidatos fortes em São Paulo, o PT se vê, agora, com o desafio de eleger uma grande bancada e uma das estratégias de Lula é avançar tanto na Câmara como no Senado, minando o poder de aliados, como o PMDB. Foi nesse contexto que o ex-presidente sacou uma ideia, aparentemente, brilhante: lançar o cartola Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, ao parlamento, na esperança de que ele obtenha 500 mil votos e, assim, ajude a eleger outros deputados. Uma estratégia à la Tiririca – o palhaço lançado pelo PR nas últimas eleições, que obteve 1 milhão de votos e engordou a bancada da turma de Valdemar Costa Neto.
No entanto, quais são as credenciais de Andrés Sanchez? O sonho realizado da torcida do Corinthians? Até agora, a 67 dias da Copa do Mundo, seu exemplo não chega a ser inspirador. Além das três mortes na problemática arena que vem sendo construída pela Odebrecht, que pode até ser interditada durante a Copa do Mundo, Sanchez deu uma demonstração, na revista Istoé, de que é capaz de cometer descortesias em série.
Para começar, ofendeu os torcedores, que esperavam que, na Copa de Mundo de 2014, o Brasil pudesse se projetar como uma nação moderna, capaz de despertar orgulho dentro e fora do País. Sanchez, no entanto, disse que o Itaquerão, onde está previsto o jogo de abertura do mundial, não será “padrão Fifa”, mas sim “padrão Corinthians”, “padrão zona leste”. Afirmou ainda que se não for possível fazer tudo a tempo, o estágio será entregue inacabado. “Vai do jeito que está”, afirmou.
Sanchez também conseguiu ofender a presidente Dilma Rousseff, que se engajou diretamente na realização do torneio, prometendo a #CopadasCopas. “O governo federal falhou em como vender o País para fora. Foi um erro de avaliação da Dilma”, disse o cartola corintiano.
Não satisfeito, ele atacou ainda o provável futuro presidente da CBF e também a população negra. “Vamos ter um futebol muito negro quando o Marco Polo del Nero assumir”, fazendo um trocadilho de mau gosto com o sobrenome do dirigente.
Essas são as credenciais de Sanchez: uma arena inacabada – que pode manchar a imagem do País e até, numa situação limite, deixar São Paulo de fora da Copa do Mundo – e sua própria falta de educação. Sem falar em outras histórias polêmicas de sua trajetória pessoal.
Será que é esse realmente o melhor nome para tentar resgatar em São Paulo o PT, um partido com história e base social? José Dirceu construiu uma trajetória de militância na esquerda desde a juventude e, mesmo preso, conta com a solidariedade dos petistas. O mesmo vale para José Genoino, ex-guerrilheiro do Araguaia e da Constituinte, e para João Paulo Cunha, o primeiro sindicalista a presidir a Câmara dos Deputados.
Mas o caso de Sanchez equivale apenas a uma jogada eleitoral. Uma aposta de que os milhões de corintianos irão lhe retribuir com o voto o sonho antigo de um estádio próprio. Ou seja, uma escolha dissociada das raízes do PT, mas pautada por outros interesses, assim como no caso de Joaquim Barbosa.
O primeiro desastre já ocorreu. O segundo ainda pode ser evitado.
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