quinta-feira, 9 de maio de 2013

Estudantes com dificuldades de aprendizagem nas escolas a culpa pode não ser da qualidade do ensino


Por Renata Kieling, Médica pediatra, doutoranda em neurociências pela PUCRS
O bebê nasceu lindo, cresceu forte, encantou a todos com os primeiros passos e arrancou sorrisos nas primeiras palavras. Entrou para a escola, entre ansioso e feliz, cheio de expectativas e pronto para aprender. Mas o que era para ser uma fonte virtualmente inesgotável de descobertas e conquistas revelou-se um pesadelo sem fim. Meu filho não aprende.
Milhares de pais e mães vivenciam esta realidade. No Brasil, estima-se que cerca de 15% das crianças tenham mais de dois anos de atraso escolar, com rendimento acadêmico marcadamente abaixo do esperado para a série.
As causas para um fracasso escolar podem ser muitas, e uma avaliação adequada requer uma abordagem multidisciplinar. Existem síndromes genéticas associadas a dificuldades de aprendizagem; doenças metabólicas que podem conduzir ao quadro; distúrbios psiquiátricos ou neurológicos subjacentes. Algumas crianças, contudo, apresentam transtornos específicos da aprendizagem _ dislexia, disgrafia e discalculia.
Entender por que algumas crianças não aprendem _ apesar de frequentarem boas escolas e terem um incentivo adequado aos estudos em casa _ é um desafio que vem mobilizando um número cada vez maior de pesquisadores. Porto Alegre lidera hoje uma pesquisa nacional de grande porte voltada ao reconhecimento precoce de transtornos de aprendizagem, utilizando modernas ferramentas de neuroimagem.
Crianças de diversas escolas públicas da Capital serão acompanhadas pelos pesquisadores do Projeto Acerta, financiado pela Capes, de forma a mapear as trajetórias de aprendizagem, buscando identificar os fatores associados a um desenvolvimento normal e anormal das habilidades de leitura, escrita e matemática.
Hoje, técnicas avançadas de neuroimagem nos permitem identificar diferenças no funcionamento cerebral de crianças com transtornos de aprendizagem, ajudando a esclarecer suas bases biológicas. Contudo, de nada servirão esses avanços se antes não reconhecermos que o insucesso na aprendizagem nem sempre está relacionado a um sistema educacional falho, a professores desmotivados, à preguiça, má vontade ou, pior, à “burrice” da criança.

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