sábado, 11 de maio de 2013

Autismo


Por Silvia Sperling, Nutricionista
 Aprendi com meu filho que gosto muito do silêncio. Silêncio para pensar, me escutar e entender.
Preciso pensar no porquê a vida é tão sinuosa e intrigante. Porque tantas pessoas são barulhentas e espaçosas. Porque necessito tanto de futilidades para aliviar o peso da realidade.
Preciso me escutar para não me perder no emaranhado das tarefas rotineiras, no atordoamento em meio a gritos e gemidos, e na avalanche de teorias, terapias, opiniões e notícias.
Preciso desesperadamente entender esta doença tão misteriosa que é o autismo, sem interpretações divinas ou transcendentais. Simplesmente compreender a melhor forma de conduzir minha vida e a de Otávio, respeitando nossos desejos e limitações.
A quietude é inspiradora e fonte de energia que repara e reconstrói. Me faz enxergar a mediocridade e refazer caminhos. A solidão já não me assusta, e, sim, me atrai e me encanta, com sua riqueza de detalhes e com o alvoroço de sentimentos que gera.
Aprendi com meu filho esta maternidade especial, assim como ele. Uma maternidade diferente da idealizada em comerciais e capas de revistas. Distante das comemorações, sorrisos e aplausos. Das conversas efusivas em corredores de escolas. Da glamorização do primeiro passo, da primeira palavra, do primeiro desenho.
Aprendi a valorizar minha vontade, meu jeito de ser e a capacidade gigante de sonhar.
Aprendi a não ter vergonha de amar e de odiar, de rir e de me desesperar. Estar perto ou me afastar.
Adquiri um olhar divergente, questionador e inquietante, frente ao outro, a mim e à vida. Pois, se meu filho é diferente, logo, eu tenho que me modificar. Mudar de planos, nossa casa, o ensino a rotina, o roteiro… Escrever uma história que valha a pena, onde há drama, comédia, ação, aventura. Uma trama complexa, longa, que não agrada à todos, mas somente a quem estiver disposto a encontrar um sentido mais profundo do que o presente em enredos corriqueiros e novelescos.
Seguirei aprendendo a como dirigir nossa vida e reconhecendo quem merece partilhá-la. Serão poucos, mas fiéis, otimistas, silenciosos e abnegados. De qualquer forma, eu estarei sempre aqui, sendo a força, o amparo, a bravura, a doçura, a loucura. Sendo para sempre sua mãe.

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