quarta-feira, 20 de março de 2013

Andrés Sanchez abre o jogo: 'O Corinthians não tem mais caixa


Ex-presidente afirma que o clube está no limite financeiro e sem financiamento e incentivos fiscais obra no Itaquerão será paralisada                                             

SÃO PAULO - A pouco mais de um ano da Copa de 2014, o Itaquerão, estádio que receberá a seleção brasileira para o jogo de abertura, está em xeque. As obras orçadas em R$ 820 milhões podem parar e o Corinthians tem um plano B, o de construir um estádio menor. É o que diz Andrés Sanchez, ex-presidente do clube e principal articulador entre Odebrecht, governo federal e Prefeitura de São Paulo. O motivo: nem o financiamento do BNDES nem a linha de incentivos fiscais da Prefeitura foram liberados. “Realmente, se até as próximas semanas não adiantar o CID (Certificado de Incentivo de Desenvolvimento) e o financiamento é óbvio que o Corinthians não vai mais ficar pagando juros e vai parar a obra”, ameaçou Sanchez em entrevista ao Estado.

Se faltar dinheiro, Sanchez ameaça esquecer a Copa - Clayton de Souza/Estadão
Clayton de Souza/Estadão
Se faltar dinheiro, Sanchez ameaça esquecer a Copa
As obras do Itaquerão vão parar por falta de dinheiro, sem a liberação do empréstimo de R$ 400 milhões do BNDES e também da linha de crédito da Prefeitura (R$ 420 milhões)?
Andrés Sanchez - 
Quem conhece de obras de Copa do Mundo sabe que tem um monte de coisa que, para o Corinthians, não tem utilidade. Seriam só para os 30, 40 dias do Mundial. E além de gastar agora para fazer tem de gastar depois para desfazer. Já está liberado o dinheiro do BNDES. Foi combinado o CID e o financiamento do banco repassador (Banco do Brasil). É ai que está o problema: o banco repassador está se negando a aceitar algumas garantias que estão sendo dadas. E realmente se até as próximas semanas não adiantar nem o CID nem o financiamento o Corinthians não vai mais ficar pagando juros e vai parar a obra.
Mas qual o prazo para pararem as obras?
Andrés Sanchez - 
Não tem prazo especifico, só que o Corinthians tem um limite de fluxo de caixa e não podemos estourar esse nosso limite, então tem poucos dias aí, poucas semanas, para chegar a um acordo.
Quanto já foi gasto nas obras do estádio com cerca de 70% concluído?
Andrés Sanchez - 
Até agora foram gastos R$ 478 milhões, mais quase R$ 30 milhões de juros até o final do mês de abril.
Num cenário sem o financiamento do BNDES, no caso de demorar muito para ser liberado, existe a possibilidade de o estádio ficar fora da Copa?

Andrés Sanchez - 
Lógico. O Corinthians não vai mais permitir que a Odebrecht faça empréstimos-ponte. O Corinthians não vai permitir mais que se pague juros, então vai ter um impasse.
Se isso acontecer vocês trabalham com projetos alternativos?
Andrés Sanchez - 
Se acontecer isso, remodelaremos o estádio que está praticamente pronto, o Corinthians começa a jogar aqui em janeiro e arrecada mais de R$ 200 milhões só em 2014. Em 2014 já se pagariam quase 50% do estádio. E se tiver Copa do Mundo o time não joga no estádio no ano que vem porque acabou a Copa, o Corinthians vai ter de fazer um monte de obras aqui, pelo menos mais cinco, seis meses para deixar tudo pronto. Com a Copa, ficamos um ano inteiro sem arrecadação, essa é a conta.
Para terminar o estádio só do Corinthians, sem a Copa, quanto de dinheiro seria necessário e quem pagaria tudo isso?
Andrés Sanchez - 
Mais uns R$ 200 milhões, talvez. E negociaremos com os bancos que fizeram empréstimo com a Odebrecht. Pagaríamos com a receita do estádio, camarotes, publicidade, restaurantes, só que os juros seriam maiores (que os do BNDES).
Falar em Itaquerão sem a Copa é uma ameaça para receber o empréstimo?
Andrés Sanchez - 
Não é ameaça, é uma realidade. Eu não quero colocar a faca no pescoço de ninguém, eu já expliquei para o prefeito, para o governo... Infelizmente o Corinthians não tem mais caixa e não tem mais viabilidade financeira para pagar mais juros. Acreditem: nós estamos no limite.
O que dizem o Comitê Organizador Local (COL) e a Fifa a respeito disso?
Andrés Sanchez - 
Eles já foram avisados que se continuar dessa maneira vai parar tudo.
E o que eles disseram?
Andrés Sanchez - 
‘Pelo amor de Deus!’
Quando os CIDs, da Prefeitura, devem ser liberados?
Andrés Sanchez - 
Pela reunião que tive com o prefeito, nos próximos dias deve ser liberado. Alivia a pressão, mas não soluciona o problema.
Sobre a CBF, como vê a sucessão de José Maria Marin. Marco Polo Del Nero é um dos candidatos?
Andrés Sanchez - 
O Del Nero está em campanha. Agora quem será a oposição a ele eu não sei. E eu apoio qualquer cidadão do futebol contra o Del Nero.
Por quê?
Andrés Sanchez - 
Porque acho que o Del Nero não é o melhor nome para a CBF.
Quem seria esse nome? Você será candidato?
Andrés Sanchez - 
Tem vários nomes aí, alguns surgiram, não sei, tem presidentes de federações, de clubes, ex-presidentes de clubes, cada um tem direito. Não é eu querer, o candidato tem de surgir naturalmente, eu não trabalho com essa hipótese.
Como você viu a tragédia, a morte de um torcedor do San Jose, e a punição do Corinthians?
Andrés Sanchez - 
Foi o maior linchamento público de uma instituição, acho que o Corinthians não é responsável e foi tachado de criminoso sem ter culpa.
Morreu um jovem de 14 anos. Não acha que alguém tem de ser punido por isso?
Andrés Sanchez - 
Já pensou quantas pessoas morrem de acidente de carro, então vamos fechar as montadoras de carro. Cada um é responsável pelos seus atos, não teve briga generalizada, o clube não incentivou nada. 
Vitor Marques - O Estado de S. Paulo

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