domingo, 17 de março de 2013

Além de cobrar honestidade do políticos, todas as pessoas também devem ser honestas, éticas e respeitadoras das leis


Por Marco Antônio Souza, Advogado
Já faz algum tempo que os políticos brasileiros foram transformados em autênticas “Genis” (figura caracterizada e imortalizada por Chico Buarque) da vida nacional. Merecem? Sem dúvida que as atitudes de muitos políticos (talvez a maioria) estão completamente alheias e distantes das melhores condutas éticas e morais, para falar apenas no mais simples.
Na verdade, considerando que vivemos num regime democrático, a classe política é o espelho fiel da sociedade que representa, ou será que algum político alcança o cargo que ocupa sem o respaldo de milhares de votos? Portanto, prefacialmente é identificada uma interessante contradição nesta situação: os críticos são exatamente aqueles que conduzem e reconduzem (muitas vezes) os políticos aos cargos que alcançam.
Quando se fala em corrupção, estamos tratando da consequência óbvia que é o nefasto desvio de recursos públicos que deveriam ser utilizados para amenizar a caótica situação da saúde, segurança, educação, transportes etc. Evidentemente que é abominável o desvio de recursos, mas o curioso é que os críticos apenas visualizem tal problema na conduta dos políticos. Ou será que sonegação não implica também desvio de recursos públicos? Até parece que a aquisição de um produto ou serviço sem nota fiscal também não importa em desvio (evasão) de recursos públicos. A regra é que fornecedores e consumidores ofereçam e aceitem descontos, desde que a transação não seja representada por nota fiscal. Claro que há exceções (talvez o seu caso), mas as exceções existem precisamente para confirmar as regras.
Quem já não foi pagar honorários de médicos, dentistas, advogados, psicólogos etc., e na hora de saber o valor foi indagado: “Com recibo ou sem?”. O curioso (segunda contradição) é que os mesmos que oferecem e recebem o “benefício” são os mesmos que criticam os políticos. Até parece que não estamos falando da mesma consequência, ou seja, desvio de recursos da saúde, educação, segurança, transportes etc. Até parece que não estamos falando de questões éticas, morais e, por que não, de honestidade.
Para não ficar apenas no reino da abstração, podemos analisar um recente acontecimento que abalou o Rio Grande do Sul. Em brilhante trabalho, a Polícia Federal desbaratou uma quadrilha que desviava recursos do Detran/RS (os mesmos recursos que deveriam ir para saúde, educação, segurança, transporte etc.). O resultado prático foi a transformação de 40 “cidadãos” em réus de processo criminal. Obviamente que o ódio da população foi direcionado para os “políticos”. É merecido? O simples exame da relação dos réus revela um dado estarrecedor: dos 40 réus, apenas 10 (e com muito boa vontade) são políticos ou mantêm relações mais ou menos próximas com políticos, os demais (30 réus, ou 75% do total) integram exatamente o mesmo grupo que critica e exala mortal ódio contra os políticos, ou seja, “cidadãos” comuns como nós (advogados, professores, empresários etc., que também foram denunciados).
Ou seja, a própria sociedade que escolhe e conduz os políticos aos seus cargos prega uma moral de calças curtas, pois usufrui e desfruta direta e/ou indiretamente do mesmo desvio de recursos que tanto critica.
Infelizmente, talvez seja verdade que maracutaia seja uma negociata a que não nos convidaram para participar. Mas não fique brabo, mais uma vez a sua exceção serve para confirmar a regra.
A política está na essência do ser humano e no âmago de nossa sociedade. Os homens fazem política na família, no trabalho, entre amigos, nos clubes e também na condução da vida nacional. A verdade triste e crua é que a política é a mesma em todas as situações, e os políticos (inclusive todos nós) também. Apenas para mais uma vez exemplificar, para quem não conhece, os conselhos deliberativos de clubes de futebol são espelhos perfeitos _ guardadas as proporções _ das Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas, Congresso Nacional. Todos são reflexos das sociedades que representam.
Portanto, não basta cobrar dos políticos uma postura mais honesta, ética e moral, todos nós precisamos ser mais honestos, éticos, morais e muito menos contraditórios. E o senhor(a), que está furioso(a) e não concorda com este texto, é a honrosa exceção que apenas valida a triste regra que mancha nosso país.

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