quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

MST manifesta solidariedade ao cineasta Sílvio Tendler e condena intimação



19 de dezembro de 2012

Da Página do MST

O cineasta Sílvio Tendler foi intimado a depor por "constrangimento ilegal qualificado" por gravar e divulgar um vídeo de apoio a um ato na porta do Clube Militar, em 31 de março, contra a comemoração do golpe de 64.
Os militares derrubaram o governo democraticamente eleito de João Goulart, com apoio dos grandes capitalistas e do imperialismo dos Estados Unidos.
Durante 21 anos, a ditadura reprimiu, torturou e matou os defensores da democracia e impediu as lutas dos trabalhadores por melhores condições de vida.
O depoimento de Sílvio Tendler está marcado para esta quarta-feira (19/12), às 14h, na Policia Civil, no Rio de Janeiro.
O MST manifesta solidariedade ao amigo Sílvio Tendler, que tem o seu direito de liberdade de expressão desrespeitado com esse constrangimento imposto pela polícia.
Tendler, que tem compromisso com a justiça e com a democracia, tem um trabalho como cineasta que contribui na compreensão da história do nosso país e das contradições impostas pelo capitalismo nos nossos tempos.
O filme “O Veneno está na Mesa”, que revela os riscos da produção e do consumo dos agrotóxicos no Brasil, é um exemplo.
O filme cumpre um papel fundamental para expor à sociedade os efeitos perversos para a saúde pelo modelo do agronegócio. Atualmente, ele está fazendo uma continuação desse documentário.
Abaixo, leia a carta aberta ao delegado da Polícia, respondendo à Intimação por parte do Clube Militar.
Delegado,
Dois policiais vieram ontem à minha residência entregar intimação para prestar declarações a fim de apurar atos de "Constrangimento ilegal qualificado – Tentativa – Autor", informa o ofício recebido. Meu advogado apurou tratar-se de denúncia ou queixa ou sei lá o quê, por parte do "presidente do clube militar" (em letra minúscula mesmo, de propósito).
Informo que na data da manifestação, 29 de março de 2012, estava recém-operado, infelizmente impedido de participar de ato público contra uma reunião de sediciosos, os quais, contrariando à determinação da Exma. Sra. Presidenta da República, comemoravam o aniversário da tenebrosa ditadura, que torturou, matou, roubou e desapareceu com opositores do regime.
Entre os presentes estava o matador do Grande Herói da Pátria, Capitão Carlos Lamarca, e seu companheiro Zequinha – doentes, esquálidos, sem força, encostados numa árvore. Zéquinha e Lamarca foram fuzilados sem dó, nem piedade, quando a lei e a honra determinam colocá-los numa maca e levá-los para um hospital para prestar os primeiros socorros. Essa gente estava lá, não eu. Eles é que devem ser investigados.
Eu farei um filme enaltecendo o Capitão Lamarca e seu bravo companheiro Zequinha. Tenha certeza, Delegado, de que, enquanto eu tiver forças, me manifestarei contra o arbítrio e a violência das ditaduras e, já que o Sr. está conduzindo o inquérito, procure apurar se o canalha que prendeu, torturou e humilhou minha mãe nas dependências do Doi-Codi participou do "festim diabólico". Isso sim é Constrangimento Ilegal.
E já que se trata de assunto de polícia, aproveite para pedir ao "constrangedor ilegal" que ficou com o relógio da minha mãe – ela entrou com o relógio no Doi-Codi e saiu sem ele – que o devolva. Processe-o por "apropriação indébita, seguida de roubo qualificado (foi à mão bem armada)”. É fácil encontrar o meliante. Comece pelo Comandante do quartel da Barão de Mesquita em janeiro de 1971. Já que eles reabriram o assunto, o senhor pode desenterrar o processo. É, Delegado, o que eles fizeram durante a ditadura é mais assunto de polícia do que de política!
Pergunte ao queixoso presidente do clube militar se ele tem alguma pista do paradeiro do Deputado Rubens Paiva. Terá sido crime cometido por algum participante da festa macabra, onde, comenta-se, havia vampiros fantasiados de pijama?


Tudo o que fiz foi um chamamento pelo youtube convidando as pessoas a se manifestarem contra as comemorações do golpe de 64. Se este general entendesse ou respeitasse a lei, não teria promovido a festa e, tendo algo contra mim, deveria tentar me enquadrar por "delito de opinião" mas aí, na fotografia, ele ficaria mais feio do que é, não é mesmo?
Por fim, quero manifestar minha solidariedade aos que protestaram contra o "festim diabólico" e foram tratados de forma truculenta, à base de gás de efeito moral, spray de pimenta e choque elétrico – como nos velhos tempos. Bastaria umas poucas grades para separar os manifestantes do povo, que estavam na rua, aos sediciosos que ingressavam no clube. Há muitos poderia causar a impressão de estar visitando um zoológico e assistindo a um desfile de símios.
Não perca tempo comigo e com a ranhetice de um bando de aposentados cri-cri, aporrinhando a paciência de quem tem mais o que fazer. Pura nostalgia da ditadura, eles se portam como se ainda estivessem em posição de mando.
Atenciosamente,
Silvio Tendler

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