quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Mesmo com carência de trabalhadores qualificados, o Brasil não está sofrendo um apagão de mão de obra




Nos últimos tempos, de forma crescente, técnicos, empresários e leigos tem escrito, falado e espalhado a idéia de que o Brasil está vivendo uma escassez muito forte de mão de obra. Também tem surgido estudos de cunho científico que procuram testar, utilizando os mais diferentes métodos e bases de dados, a hipótese de que o Brasil estaria  prestes a enfrentar um verdadeiro “apagão de mão de obra”.  A imensa maioria desses estudos foca em profissionais de nível superior, principalmente os de carreiras técnicas. Entretanto, as entidades representantes dos profissionais dessas áreas rejeitam com toda convicção a carência de mão de obra. 
Existem também vários estudos que abrangem todos os setores ocupacionais. Nesses estudos são encontradas mais carências nas áreas da base do que nas ocupações que exigem menor nível de escolaridade. No entanto, mesmo nesses estudos não é possível encontrar qualquer evidência de que haja a eminência da ocorrência de uma escassez generalizada de mão de obra em nossa economia. 
De acordo com trabalho recente do IPEA, o foco do problema parece estar em identificar as carências específicas, e a partir daí tentar reduzi-las, no curto prazo, com políticas de educação profissional continuada e com importação de mão de obra. Em suma, os estudos que proliferaram nos últimos anos concluem que a disponibilidade de trabalho qualificado não se configurou um fator limitante do crescimento econômico do Brasil na década de 2000. 
A força de trabalho brasileira permanece sendo, em geral, de baixa escolaridade.O Brasil ainda precisa ampliar seu contingente de pessoas com cursos médios e superiores. A despeito das melhorias de fluxo na educação básica e da expansão de programas como o Programa Universidade para Todos (PROUNI) e o Programa de Financiamento Estudantil (Fies), dados publicados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2012) mostram que somente 41 a cada cem brasileiros entre 25 e 64 anos dispõem de ensino médio completo, e apenas onze detêm um título de nível superior. Este desempenho mostra-se bastante distante da média dos países ricos, onde, em média, 74 a cada cem concluíram o ensino médio e 31 a cada cem passaram por algum tipo de educação terciária. 
A produtividade do trabalho no Brasil é historicamente baixa e tem crescido muito pouco ao longo dos anos. Macedo (2012) mostra que a produtividade do trabalho, medida em termos de produto interno bruto (PIB) por pessoal ocupado, situa-se no Brasil em um nível três vezes menor que na Coréia do Sul; quatro vezes menor que na Alemanha; e cinco vezes menor que nos Estados Unidos. 
Ganhos de produtividade dependem de uma gama ampla e complexa de condições econômicas, tecnológicas e institucionais, entre as quais figura, por certo, a disponibilidade de recursos humanos com as necessárias competências. E estas precisam ser entendidas como atributos cognitivos, de habilidades físicas e motoras, de qualificações técnicas, que incluem conhecimento tácito, e de relacionamento social e organizacional, para os quais contribuem, em parte importante, mas não exclusiva os conhecimentos e outras competências adquiridos na educação escolar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário